sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Santa Catarina de Siena


Santa Catarina de Siena
Festa: 29 de Abril
 

   Santa Catarina de Siena nasceu em Siena no dia da Anunciação, em 25 de março de 1347, sendo a 24ª filha de um tintureiro chamado Giacomo de Benincasa e Lapa.

   Em 1953, com seis anos, tem uma visão extraordinária de Jesus. Revestido de paramentos pontificais, o Divino Mestre pairava no ar, majestosamente, sobre a igreja dos padres dominicanos. Consta que, não muitos dias depois, a precoce criança fez o voto de nunca se casar.

   Em 1362, depois de várias tentativas, aos quinze anos, Catarina entrou para a Ordem da Penitência, de São Domingos. Era uma associação religiosa, formada quase somente de viúvas, que, vivendo em suas casas, dedicavam-se à oração em comum, ao cuidado dos doentes e ao auxílio material dos pobres. Simultaneamente aos primeiros passos no apostolado, Catarina passou por grandes experiências místicas.

   Em 1367, com vinte anos, a fervorosa moça já se impunha na cidade natal de Sena: semanalmente dirigia uma reunião pública de exortação, oração e ensino, com a presença de muitos leigos, religiosos e sacerdotes no hospital de Santa Maria della Scalla. De tais reuniões nasceu a famosa “família catariniana” cujos membros a acompanharam até a morte. Dotada de poderes supranormais, a jovem “mamma” impressionava quantos dela se aproximavam. Parecia ler nas consciências e tinha sempre a solução justa para os mais difíceis casos.

   Em 1370, deu-se um fato místico que mudou a vida de Catarina: sua “morte mística”. Em um êxtase, Catarina morreu e ouviu as seguintes palavras de Deus: “A salvação dos homens exige que tu voltes à vida. Mas não viverás mais como até agora. O pequeno quarto não será mais tua costumeira moradia; pelo contrário, para a salvação das almas deverás sair de tua cidade. Estarei sempre contigo na ida e na volta. Levarás o louvor do meu nome e a minha mensagem a pequenos e grandes, a leigos, clérigos e religiosos. Colocarei em tua boca uma sabedoria, à qual ninguém poderá resistir. Conduzir-te-ei diante de papas, de bispos e de governantes do povo cristão a fim de que por meio dos fracos, como é do meu feitio, eu humilhe a soberba dos fortes”. De fato, a partir daquele dia Catarina começou a sentir-se “como que outra pessoa”! Naquela época, o Sumo Pontífice morava em Avinhão, na França, e deixara como responsável pelo Estado Pontifício na Itália o cardeal legado Pedro d’Estaing. Este, para reprimir as pretensões políticas do Duque de Milão, fizera aliança com a Rainha de Nápoles e o Rei da Hungria, e entregara a um general inglês – John Hawkwood – a chefia das tropas pontifícias. Catarina, então já em contato com grandes teólogos, jurisconsultos e artistas de Sena, percebeu o perigo da guerra entre esses príncipes cristãos. Como solução pacificadora, idealizou a realização de uma grande Cruzada contra os mulçumanos e começou a enviar longas cartas-mensagens a todo mundo.

   Em 1375, para organizar a Cruzada pacificadora, Catarina vai à cidade de Pisa. Esta sua visita ficou famosa porque foi então que recebeu de Cristo o doloroso dom das chagas ou estigmas.

   Em 1376, havia se formado na Itália uma Liga ou Aliança de 80 cidades e castelos contra o poder político-religioso de Roma. O Papa, de Avinhão, reagiu com a arma de que dispunha, lançando o Interdito contra Florença, principal responsável pela situação. Privada de seus direitos de fé e de comércio, a cidade toscana recorreu a Catarina de Sena; queria que fosse a Avinhão em nome de seu governo, para negociar a paz. A jovem Mantellata começou mandando duas cartas a Gregório XI, com sugestões sobre a reforma da Igreja: que o papa afastasse de seus cargos os “membros” apodrecidos, que voltasse ele mesmo a Roma, que procurasse pacificar a cristandade. Depois, encaminhou-se para a França. Antes de voltar à Itália, Catarina encorajou quanto pôde o Papa a fim de que retornasse a Roma. Gregório XI deixou de fato Avinhão aos 13 de setembro.

   Em 1378, faleceu Gregório XI e foi substituído por Urbano VI. Em Florença, ainda submetida ao Interdito papal, a situação tornava-se cada dia mais tensa. Convidada outra vez a servir de intermediária, Catarina dirigiu-se para lá. Numa sedição popular, enfrentou corajosamente um cidadão mais exaltado que ameaçava matá-la. O tratado de paz foi firmado no dia 28 de julho. Durante os meses seguinte, Catarina recolheu-se em Sena, onde ditou o Diálogo. Ainda não acabara de fazê-lo, quando ocorreu em Roma o acontecimento que mais deveria causar-lhe sofrimentos e que, afinal, a levaria à morte: a eleição do antipapa Clemente VII. Por expressa ordem do verdadeiro papa, ela foi à Cidade eterna, acompanhada de diversos discípulos. Chegando no dia 28 de novembro, logo falou aos cardeais fiéis ao Papa sobre a gravidade do cisma. Segundo quanto diz o B. Raimundo de Cápua, logo depois, o papa Urbano VI tomou a palavra e acrescentou: “Vede, meus irmãos, como nos tornamos desprezíveis aos olhos de Deus, deixando-nos tomar pelo medo. Esta pobre mulher nos envergonha!”.

   1380 – A jovem sobretudo orava a Deus pela unidade da Igreja; no dia 15 de fevereiro ditou sua última carta ao B. Raimundo de Cápua, então na cidade de Gênova. Entre outras coisas, dizia: “Quando são nove horas da manhã e eu deixo a igreja onde estive para a missa, vós vereis uma defunta que se dirige à igreja de São Pedro. Então começo de novo a trabalhar pela barca da Santa Igreja. Fico ali até às 15 horas. Gostaria de não deixar aquele lugar, nem de dia nem de noite, até que pudesse ver este povo mais calmo e em paz com o seu pai. O corpo não mais se alimenta, nem mesmo com uma gota de água. Com tão grandes sofrimentos corporais, os quais para mim são doces e desde algum tempo suporto, minha vida pende por um fio”. Sabemos que a partir do dia 4 de março, já não conseguiu mais levantar-se do leito. Em seus êxtases, elevava a Deus fervorosas preces, que os discípulos tiveram o cuidado de transcrever. Catarina faleceu aos 29 de abril, repetindo dezenas de vezes: “Pequei, pequei Senhor; tem piedade de mim”.

   1461 – Foi canonizada por Pio II.

   1970 – O papa Paulo VI a declarou Doutora da Igreja.

Fonte: “O Diálogo”. Ed. Paulus.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Demolição da Igreja


Demolição da Igreja 




Don Pierpaolo Petrucci

A sociedade civil do que era a Europa cristã, está cada vez mais se afastando da lei natural. A lei Taubira, recentemente aprovada na França, que equipara as uniões contra a natureza com o matrimônio, com a possibilidade de adotar crianças,faz eco na Itália, a lei sobre a homofobia, um prelúdio daquela francesa, que fará punível por lei aqueles que continuam a proclamar que o vício contra a natureza clama por vingança diante de Deus.

O silêncio do papa sobre assuntos de tão grande valor moral e de importância para a sociedade deixou muito perplexos também jornalistas, não particularmente relacionados com o mundo da Tradição.

Recentemente, explodiu o escândalo do Bispo Battista Ricca, que foi nomeado pelo Papa Francisco prelado ao IOR. Foi dito que o pontífice não estava ciente dos problemas morais do monsenhor e teria esperado um pedido de demissão.

Agora vêm as declarações do Papa Francisco aos jornalistas, durante sua viagem de volta do Brasil. No atual contexto afirmar sem qualquer distinção de que "se uma pessoa é gay, mas busca o Senhor e tem boa vontade" não se a pode julgar, é extremamente grave. Até mesmo o Papa, assim, se insere no atual clima cultural em que tudo está sendo feito para normalizar o vício antinatural. Como esperado, as declarações do papa foram tomadas e enfatizadas pelos partidários da teoria do gênero e da lei contra a homofobia.

 Essa "abertura de espírito" sobre problemas que afetam a lei natural se encontra diametralmente em contraste com a recente posição de grande gravidade sobre os franciscanos dos Franciscanos da Imaculada, quanto a celebração do rito tradicional da Missa.

 A partir do próximo domingo, 11 de agosto, de facto, será para eles vetada a celebração da Missa de São Pio V. Esta decisão foi tomada por um decreto de 11 de julho e assinado pelo prefeito da Congregação para os Religiosos, Cardeal Braz de Aviz e do seu secretário, o arcebispo franciscano Dom José Rodriguez Carballo, com a aprovação em um formulário específico do Papa.

É fala claro: o Santo Padre Francisco dispôs que todo religioso da Congregação dos Frades Franciscanos da Imaculada estão obrigados a celebrar a liturgia segundo o rito ordinário e que, eventualmente, o uso da forma extraordinária (Vetus Ordo) deverá ser explicitamente autorizada pelas autoridades competentes por cada religioso e/ou comunidade que lhes solicitar].  

Este decreto não leva em conta o Motu Proprio Summorum Pontificum com o qual Bento XVI a autorizou, muito menos o indulto perpétuo já concedido por São Pio V na Bula Quo Primum Tempore.

No atual clima de total liberdade, onde todos os abusos litúrgicos são tolerados, o mal maior parece ser a celebração da Missa Tradicional. A luta ... é como o diabo e a água benta!

Quem que se perguntou por que a Fraternidade São Pio X não aceitou de assinar um acordo com as autoridades romanas agora tem uma resposta mais do que eloquente. Além do fato de que não pode haver nenhum compromisso na aceitação dos erros do último Concílio e a nova liturgia reformada no sentido protestante, como foi explicitamente solicitado pelo Protocolo de Roma, está se tornando cada vez mais claro que não podemos ter qualquer confiança nos homens da igreja imbuídos de princípios liberais.

Quando Deus der à Igreja um Pontífice que tenha a coragem de implementar uma verdadeira reforma, a Fraternidade estará pronta para responder ao seu apelo para a defesa da fé e do sacerdócio católico. No momento, há na Igreja um grave estado de necessidade e tem que ser cego para não vê-lo.

Claro que, mesmo Papa Paulo VI, quando ele falou de "auto-demolição da Igreja", não se deu conta de que sua afirmação seria tão profundamente realizada.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Declaração por ocasião do 25º aniversário das sagrações episcopais


Declaração por ocasião do 25º aniversário das sagrações episcopais (30 de junho de 1988 – 27 de junho de 2013).

  1. Sacre de 1988Por ocasião do 25º aniversário das sagrações, os bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X expressam solenemente sua gratidão a Dom Marcel Lefebvre e a Dom Antônio de Castro Mayer pelo ato heróico que não tiveram medo de realizar em 30 de junho de 1988. Mais particularmente, querem manifestar sua gratidão filial ao seu venerado fundador que, depois de tantos anos de serviço à Igreja e ao Romano Pontífice, para salvaguardar a fé e o sacerdócio católico, não hesitou em padecer a injusta acusação de desobediência.
 
  1. Na carta que nos dirigiu antes das sagrações, escreveu: “Eu vos conjuro a permanecer unidos à Sé de Pedro, à Igreja romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, na fé católica íntegra, expressada nos Símbolos da fé, no catecismo do Concílio de Trento, conforme ao que vos foi ensinado no vosso seminário. Permanecei fiéis na transmissão desta fé para que venha o Reino de Nosso Senhor”. Esta frase expressa bem a razão profunda do ato que iria realizar: “para que venha o Reino de Nosso Senhor”, adveniat regnum tuum!
 
  1. Seguindo a Dom Lefebvre, afirmamos que a causa dos graves erros que estão demolindo a Igreja não reside em uma má interpretação dos textos conciliares – uma “hermenêutica da ruptura” que se oporia a uma “hermenêutica da reforma na continuidade” -, mas nos próprios textos, por causa da inaudita linha escolhida pelo concílio Vaticano II. Esta escolha se manifesta nos documentos e no seu espírito: diante do “humanismo laico e profano”, diante da “religião (pois se trata de uma religião) do homem que se faz Deus”, a Igreja, única detentora da Revelação “do Deus que se fez homem”, quis dar a conhecer o seu “novo humanismo”, dizendo ao mundo moderno: “nós também, mais do que ninguém, temos o culto do homem” (Paulo VI, Discurso de encerramento, 7 de dezembro de 1965). No entanto, essa coexistência do culto de Deus e do culto do homem se opõe radicalmente à fé católica que ensina a dar o culto supremo e o primado exclusivamente ao único Deus verdadeiro e ao seu único Filho, Jesus Cristo, em quem “habita corporalmente a plenitude da divindade” (Col. 2, 9).
 
  1. Somos obrigados a constatar que este Concílio atípico, que quis ser apenas pastoral e não dogmático, inaugurou um novo tipo de magistério, desconhecido até então na Igreja, sem raízes na Tradição; um magistério decidido a conciliar a doutrina católica com as idéias liberais; um magistério imbuído dos princípios modernistas do subjetivismo, do imanentismo e em perpétua evolução segundo o falso conceito de tradição viva, viciando a natureza, o conteúdo, a função e o exercício do magistério eclesiástico.
 
  1. Desde então, o reino de Cristo deixou de ser a preocupação das autoridades eclesiásticas, apesar destas palavras de Cristo: “todo poder me foi dado na terra e no céu” (Mat. 28, 18) continuarem sendo uma verdade e uma realidade absolutas. Negá-las nos fatos significa não reconhecer na prática a divindade de Nosso Senhor. Assim, por causa do Concílio, a realeza de Cristo sobre as sociedades humanas simplesmente é ignorada, ou combatida, e a Igreja é arrastada por esse espírito liberal que se manifesta especialmente na liberdade religiosa, no ecumenismo, na colegialidade e na missa nova.
 
  1. A liberdade religiosa exposta por Dignitatis humanae e a sua aplicação prática por cinqüenta anos conduzem logicamente a pedir ao Deus feito homem que renuncie a reinar sobre o homem que se faz Deus, o que equivale a dissolver a Cristo. Ao invés de uma conduta inspirada por uma fé sólida no poder real de Nosso Senhor Jesus Cristo, vemos a Igreja vergonhosamente guiada pela prudência humana e duvidando a tal ponto de si mesma que não pede aos Estados nada além daquilo que as lojas maçônicas querem lhe conceder: o direito comum, no mesmo nível e entre as outras religiões, que ela não ousa mais chamar de falsas.
 
  1. Em nome de um ecumenismo onipresente (Unitatis redintegratio) e de um vão diálogo interreligioso (Nostra Aetate), a verdade sobre a única Igreja é silenciada; assim, uma grande parte dos pastores e dos fiéis, não vendo mais em Nosso Senhor e na Igreja católica a única via de salvação, renunciaram a converter os adeptos das falsas religiões, deixando-os na ignorância da única Verdade. Este ecumenismo literalmente matou o espírito missionário pela busca de uma falsa unidade, reduzindo muito freqüentemente a missão da Igreja à transmissão de uma mensagem de paz puramente terrestre e a um papel humanitário de alívio da miséria no mundo, colocando-se assim atrelada às organizações internacionais.
 
  1. O debilitamento da fé na divindade de Nosso Senhor favorece uma dissolução da unidade da autoridade na Igreja, introduzindo um espírito colegial, igualitário e democrático (cf. Lumen Gentium). Cristo não é mais a cabeça da qual tudo provém, em particular o exercício da autoridade. O Romano Pontífice, que não exerce mais efetivamente a plenitude da sua autoridade, assim como os bispos que – contrariamente ao ensinamento do Vaticano I – crêem poder compartilhar colegialmente de modo habitual a plenitude do poder supremo, se colocam daí em diante, com os padres, à escuta e atrás do “povo de Deus”, novo soberano. É a destruição da autoridade e, em conseqüência, a ruína das instituições cristãs: famílias, seminários, institutos religiosos.
 
  1. A missa nova, promulgada em 1969, debilita a afirmação do reino de Cristo pela Cruz (“regnavit a ligno Deus”). De fato, o seu próprio rito atenua e obscurece a natureza sacrificial e propiciatória do sacrifício eucarístico. Subjacente a esse novo rito, encontra-se a nova e falsa teologia do mistério pascal. Ambos destroem a espiritualidade católica fundada sobre o sacrifício de Nosso Senhor no Calvário. Esta missa está penetrada de um espírito ecumênico e protestante, democrático e humanista, que remove o sacrifício da Cruz. Ela ilustra também a nova concepção do “sacerdócio comum dos batizados” que esconde o sacerdócio sacramental do padre.
 
  1. Cinqüenta anos depois do Concílio as causas permanecem e continuam produzindo os mesmos efeitos, de modo que hoje aquelas sagrações episcopais conservam toda a sua justificação. É o amor pela Igreja que guiou Dom Lefebvre e que guia os seus filhos. É o mesmo desejo de “transmitir o sacerdócio católico em toda a sua pureza doutrinal e sua caridade missionária” (Dom Lefebvre, A vida espiritual) que anima a Fraternidade São Pio X no serviço à Igreja, quando pede com instância às autoridades romanas de reassumir o tesouro da Tradição doutrinal, moral e litúrgica.
 
  1. Este amor pela Igreja explica a regra que Dom Lefebvre sempre observou: seguir a Providência em todo momento, sem jamais pretender antecipá-la. Entendemos que fazemos o mesmo, seja que Roma regresse logo à Tradição e à fé de sempre – o que restabelecerá a ordem na Igreja -, seja que ela nos reconheça explicitamente o direito de professar integralmente a fé e de rejeitar os erros que lhe são contrários, com o direito e o dever de nos opormos publicamente aos erros e aos fautores desses erros, seja quem for – o que permitirá um começo do restabelecimento da ordem. Na espera disso, e diante desta crise que continua seus estragos na Igreja, perseveramos na defesa da Tradição católica e nossa esperança permanece íntegra, pois sabemos com fé certa que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mat. 16, 18).
 
  1. Entendemos assim seguir a exortação do nosso querido e venerado pai no episcopado: “Queridos amigos, sede o meu consolo em Cristo, permanecei fortes na fé, fiéis ao verdadeiro sacrifício da missa, ao verdadeiro e santo sacerdócio de Nosso Senhor, para o triunfo e a glória de Jesus no céu e na terra” (Carta aos bispos). Que a Santíssima Trindade, por intercessão do Imaculado Coração de Maria, nos conceda a graça da fidelidade ao episcopado que recebemos e que queremos exercer para honra de Deus, o triunfo da Igreja e a salvação das almas.
 
Ecône, 27 de junho de 2013, na festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
 
Dom Bernard Fellay
Dom Bernard Tissier de Mallerais
Dom Alfonso de Galarreta

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Novena ao Espírito Santo


Novena ao Espírito Santo
 

Orações iniciais para todos os dias

Deus meu!
Deus de amor e de verdade.
Autor da santificação de nossas almas, prostrado humildemente ante vossa soberana Majestade, detesto na amargura de meu coração todos os meus pecados, como ofensas feitas a Vós, digno de ser amado sobre todas as coisas.
Oh! bondade infinita!
Quisera jamais vos ter ofendido!
Perdoai-me, Senhor, Deus de graça e de misericórdia, perdoai-me minhas contínuas infidelidades; o não ter tido valor para executar coisa alguma boa, depois que tantas vezes vossa misericórdia e graça me tem solicitado, repreendido e inspirado amorosamente.
Pesa-me, me arrependo da ingrata correspondência e indigna cegueira com que tenho resistido incessantemente aos vossos doces e divinos chamamentos. Mas proponho firmemente com vosso auxílio de não ser rebelde a Vós, de seguir em adiante vossas ternas inspirações com suma docilidade.
Para este fim, iluminai-me.
Oh! fonte de luz, meu entendimento, fortalecei minha vontade, purificai meu coração, arrancai todos os meus pensamentos, desejos e afetos, e concedei-me ser digno de obter os frutos bem-aventurados que vossos dons produzem nas almas que os possuem.
Concedei-me as graças que Vos peço nesta novena, se tem de ser para maior glória vossa, e para que eu Vos veja, ame e adore sem fim em vossa glória. Amém.

Invocação ao Espírito Santo

Vinde, ó Espírito Santo,
e mandai-nos, lá do Céu,
Um raio da vossa luz!

Vinde até nós, Pai dos pobres,
Caudal de todos os dons,
E fulgor dos corações!

Ó Consolador supremo,
hóspede santo das almas,
e refrigério dulcíssimo!

Nos trabalhos sois descanso,
e calma na turbação,
e sois bálsamo no pranto!

Inundai, ó luz santíssima,
Os recessos mais profundos
Das vossas almas fiéis!

Sem a vossa proteção,
Nada subsiste no homem
sem a jaça do pecado!

Lavai toda impureza,
Fecundai toda aridez,
Curai todas as feridas!

Curvai-nos o nosso orgulho,
Fundi-nos o nosso gelo,
Velai o nosso extravio!

Aos que confiam em Vós,
Que são os vossos fiéis,
dai os sete dons sagrados!

Coroai-lhes a virtude,
dai-lhes o porto da glória,
e a alegria que não finda!
Amén. Aleluia.

Em continuação rezar a oração do dia que corresponda:

Orações finais para todos os dias (exceto o último dia):

Hino ao Espírito Santo

Vinde, Espírito Criador,

e nossas almas visitai.

Enchei de graça celeste,

os corações que criastes.

 

Vós, dito o Consolador,

dádiva de Deus altíssimo!

Fonte viva, fogo, amor;

e unção também para as almas!

 

Vós, o autor dos sete dons,

Poder da destra do Pai!

Sua autêntica promessa

proclamando os seus louvores!

 

Dai-nos mais luz aos sentidos,

mais amor aos corações;

do nosso corpo a fraqueza

robustecei com a virtude.

 

Repeli-nos o inimigo;

dai-nos a paz sem detença:

Para, guiados por Vós,

evitarmos todo mal.

 

Concedei-nos conhecer

tanto o Pai como o seu Filho;

e que sempre acreditemos

no Espírito que d’Eles procede.

 

A Deus Pai se dê a glória,

e ao Filho que ressurgiu;

também ao Consolador

se dê glória eternamente. Amém.

 

Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado.

E renovareis a face da terra.

 

Oração ao Espírito Santo!

Diviníssimo consolador de minha alma, fogo, luz e celestial ardor dos corações humanos, se é para glória de vossa Majestade que eu consiga o que eu desejo e peço neste dia, dignai-Vos conceder-me benignamente;

E se não, dirigi meu pedido, dando-me as graças que têm de ser para vossa maior glória e bem da salvação de minha alma. Amém.

Cada um se recolherá interiormente e pedirá a graça que mais necessite.

Se concluirá todos os dias com a antífona, verso, resposta e oração seguintes:

Antífona

Vos desejarei, aleluia;

Vou e venho a vós, aleluia;

E se alegrará nosso coração, aleluia, aleluia.

V. Enviai, Senhor, vosso Espírito Santo e tudo será criado.

R. E renovareis a face da terra.

Oração

Oh! Deus que haveis instruído os corações dos fiéis com a luz do Espírito Santo; dai-nos o sentir retamente com este mesmo Espírito, e aproveitar sempre de sua consolação.

Por Jesus Cristo Senhor nosso, vosso filho, que convosco vive e reina na unidade do mesmo Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos séculos. Amém.

Primeiro Dia

Começar com a orações preparatórias para todos os dias.

Oh! Espírito Santo!

Fonte viva de divinas água que, na criação do mundo, santificastes as imensas águas que rodeavam o mundo e as águas do Jordão no batismo de Jesus Cristo, Senhor nosso;

Eu Vos suplico que sejais em meu Espírito, tão árido e seco, a Sagrada fonte de água viva, que jamais se esgota e brota até a vida eterna;

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Marias em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Segundo Dia

Oh! Espírito Santo!

Que fazendo sombra com vossa virtude altíssima a puríssima Virgem Maria, e a transbordando ao mesmo tempo de graça, fizeste de um modo inefável e Onipotente a obra infinita da Encarnação do Verbo Eterno, no seio virginal de vossa celestial Esposa:

Fazei sombra a minha alma e concedei-me a graça necessária para que eu seja digno de receber ao mesmo Verbo divino feito homem e Sacramentado por meu amor, e também a especial que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa, e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Marias em Honra da Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Terceiro Dia

Oh! Espírito Santo!

Celestial pomba que, abrindo de par em par os céus, descestes sobre Jesus já batizado no Jordão, simbolizando, que desde este momento em que tomou a natureza humana, habitava Nele a plenitude da Divindade;

Vinde sobre a mim pobre e miserável e enchei-me do dom de sabedoria, de conselho, de entendimento e fortaleza, de ciência, piedade e de temor de Deus;

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Quarto Dia

Oh! Espírito Santo!

Nuvem lúcida que fazendo no Tabor sombra a Jesus transfigurado e glorioso, iluminaste aquele Santo monte, e amparastes em seu excessivo temor aos Apóstolos, comunicando-lhes depois da Ascensão de seu Divino Mestre muita luz, fervor e graça;

Iluminai, protegei e fecundai minha alma para que eu seja digno discípulo de Jesus,

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Quinto Dia

Oh! Espírito Santo! Suave vento que teve o Cenáculo e deu força e valor aos corações de quantos Vos esperavam, orando fervorosamente unidos com alma e coração:

Oh! Espírito de vida e amor!

Enchei toda a casa de meu pequeno espírito, minha memória, entendimento e vontade:

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Sexto Dia

Oh! Espírito Santo!

Luz claríssima que ilustrou o entendimento dos Santos Apóstolos, comunicando-lhes, como Sol divino, toda a luz que necessitavam para sua perfeição e para a conversão do mundo:

Oh! Luz beatíssima!

Iluminai todos os lugares tenebrosos de meu interior, para que Vos conheça e dê a conhecer a todo o mundo;

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Sétimo Dia

Oh! Espírito Santo!

Sagrado fogo que aparecendo visível sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes, inflamastes divinamente seus corações para que, abrasados em vosso amor, incendiassem depois a todo o mundo nas mesmas sagradas chamas:

Acendei em vossos Santíssimos ardores meu coração gelado, para que, abrasado meu espírito neles, acenda em vosso divino amor a quantas pessoas eu conheça;

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Oitavo Dia

Oh! Espírito Santo!

Chama ardente de caridade que com o fogo de vosso amor inflamando o coração dos Santos Apóstolos e de todos os homens Apostólicos, lhes comunicastes o dom de línguas para a conversão do mundo;

Inflamai Sagrado Fogo de Amor ao meu coração e minha língua para que sempre governado por vosso Espírito, e fervoroso na caridade, inflame a todos para que observem fielmente vossos divinos mandamentos;

E a graça que Vos peço nesta novena, se é para maior glória vossa e bem de minha alma. Amém.

Rezar três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria em honra à Santíssima Trindade, e terminar com a orações finais para todos os dias.

Nono Dia

Oh! Espírito Santo!

Caridade essencial que, difundida nos corações humanos, vossos divinos dons, comunicando todas as divinas graças que se incluem em vossos sete dons, e compreendem tudo o quanto necessita a vida espiritual, própria de cada um, e a qual desejais que se comunique a todos os homens:

Oh! Caridade santíssima! Infundi em meu coração tão pobre, os vossos sete dons, e que com eles publique vossas grandezas.

Oh! Deus misericordioso!

Vós, que antigamente enchestes neste dia os peitos apostólicos de vossa graça, dai-nos Vossos divinos carismas; concedei-nos tempos tranquilos; confirmai as graças que Vos temos pedido nesta novena, se são para maior glória vossa e bem de nossas almas. Amém.

Depois desta Oração, em lugar da antífona, verso, resposta e oração de todos os dias, se digam as seguintes:

Antífona para o Nono Dia

Hoje se completaram os dias de Pentecostes, aleluia;

Hoje se reproduzem as felizes alegrias, quando o Espírito Consolador baixou sobre seus Apóstolos, aleluia;

Hoje, raiou o resplendor do divino fogo, repousou o Espírito Santo em forma de línguas sobre eles, aleluia;

Hoje lhes concedeu palavras edificadoras, lhes inflamou de seu amor e lhes encheu de seus inumeráveis carismas, aleluia; aleluia.

V. Foram todos cheios do Espírito Santo; aleluia.

R. E começaram a falar em várias línguas; aleluia.

Oração

Oh! Deus que haveis instruído neste dia os corações dos fiéis com a luz do Espírito Santo, dai-me o sentir retamente com este mesmo Espírito, e aproveitar sempre de sua consolação.

Por Jesus Cristo Senhor Nosso, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do mesmo Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos séculos. Amém.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Uma Nova Era? Rev. Pe. Bouchacourt.

EDITORIAL DEL NÚMERO 141
 
 
http://www.fsspx-sudamerica.org/fraternidad/iesus/editorialportu141.php
UMA NOVA ERA?
 
Algumas semanas atrás ressoava no alto da loggia de São Pedro em Roma a famosa frase: "Habemus papam!" Acabava de ser eleito o Papa Francisco. Desde então, os meios de comunicação não param de dizer que se inaugurou uma nova era para a Igreja. Com o novo Sumo Pontífice –proclamam– a Igreja de Cristo vai voltar à fonte límpida e refrescante da autêntica pobreza e da simplicidade evangélica. Adeus à mozeta e aos paramentos primorosamente adornados; adeus ao cerimonial pontifical triunfalista e viva o regresso à simplicidade da “Igreja pobre para os pobres”!(1) O mundo aplaude calorosamente, enquanto o seu predecessor Bento XVI é lançado às profundezas do esquecimento, mesmo que ainda vivo.

Esse despojamento iniciado e alentado pelo último concílio, o Vaticano II, parece ter alcançado seu cumprimento com o Papa Francisco, pois, diferentemente de seu predecessor, o novo Papa faz muito poucas alusões diretas ao Vaticano II: simplesmente o vive! É o primeiro sucessor de São Pedro que nunca celebrou a Missa tradicional, já que foi ordenado em dezembro de 1969, poucas semanas depois da imposição do Novus Ordo Missae.

O Cardeal Bergoglio foi um homem totalmente embebido do espírito do concílio, em cuja fonte alimentou seu sacerdócio. Assim como o Vaticano II quis centrar-se inteiramente no homem, o Cardeal centrou também sobre o homem o seu apostolado, orientando-o à luta contra a pobreza, contra a injustiça e contra a corrupção. Fê-lo com um convencimento real, ganhando para si uma grande popularidade entre os desfavorecidos, juntando a isso uma vida simples e austera.

Animado pelo mesmo espírito, na última Quinta-Feira Santa, como “bispo de Roma”, foi celebrar a missa em uma prisão romana de menores para lavar ali os pés de uns jovens prisioneiros, entre os quais duas jovens, das quais uma era muçulmana! Estamos na presença de um populista militante.

Para quem foi o primaz da Argentina, qualquer fasto cria uma barreira entre os pobres e a autoridade, razão pela qual seria preciso simplificar ao máximo tudo o que se possa simplificar... Como, segundo ele, a liturgia tem por finalidade reunir os homens e manifestar-lhes a ternura de Deus, urge suprimir toda solenidade, ouro e incenso, e retornar à simplicidade do Evangelho. Não se trata tanto de uma falta de bom gosto ou de uma ausência de cultura litúrgica, mas da concretização de uma doutrina vivida, aquela que o Vaticano II pregou e que ele aplica com toda a sua lógica.

Este mesmo pensamento é o que vive no Papa Francisco desde sua eleição e que o guia através do diálogo inter-religioso e do ecumenismo, acerca do qual diz que “quer dar-lhe prosseguimento na linha de seus predecessores”.(2) As religiões, sejam quais forem, estão ao serviço do homem e devem unir-se para realizar o plano de Deus sobre a humanidade. Têm de reunir-se e trabalhar juntas para defender as causas universais em perigo, como o respeito pela vida, a ecologia, a paz e a luta contra todas as exclusões que provocam miséria e injustiça.

Esse movimento ecumênico e inter-religioso se orienta à ação, e não pode ser de modo algum um chamamento à conversão para entrar na Igreja Católica, única arca de salvação... No sermão da missa que celebrou diante de seus cardeais no dia seguinte à sua eleição, o Papa pronunciou belas palavras sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, fora de quem não pode haver um apostolado fecundo. Sem Ele, disse, “a Igreja não seria mais que uma ONG”. Mas alguns dias mais tarde, durante a reunião em que recebeu os responsáveis de todas as religiões, o Papa Francisco pediu às religiões que se unam para salvar os valores essenciais, sendo que uma grande parte dos chefes religiosos que assistiam não reconhece a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo... Não há aqui uma contradição? Tal contradição é, por desgraça, o próprio do modernismo que São Pio X denunciava. Esse diálogo, saibamos bem, será mais efusivo do que nunca, como já tinha mostrado tantas vezes em Buenos Aires! Ao contrário de seu predecessor, o Papa Francisco já não vai falar da hermenêutica da continuidade do Vaticano II com a Tradição, nem vai tratar de demonstrá-la. Vai assumir sem nenhum complexo essa ruptura que a FSSPX vem denunciando desde sua fundação.

Como se afasta tudo isso da teologia católica ensinada pelos Papas até Pio XII! O Sumo Pontífice, por função própria, deve defender, explicar e transmitir o depósito da fé que recebeu de Cristo. Essas atitudes novas, ensinadas e praticadas desde mais de 50 anos pelos sucessivos Papas, provêm de uma doutrina nova que está em ruptura com o que expressou o Concílio Vaticano I falando da função do Papa: O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que por revelação sua manifestassem uma nova doutrina, senão para que, com sua assistência, santamente custodiassem e fielmente expusessem a revelação transmitida pelos Apóstolos, isto é, o depósito da fé”.(3)

O Pontífice recém-eleito deve entrar no cargo que recebeu, e não adaptá-lo a seus gostos pessoais. Esse cargo o transcende. Em caso contrário, correria o risco de dessacralizá-lo.

Desde o momento de sua aceitação, o Papa já não pertence a si mesmo. Converte-se em Vigário de Cristo, ou seja, na maior autoridade sobre a terra. O fato de levar as insígnias pontifícias, o fasto do protocolo e das cerimônias a que preside protegem essa autoridade, manifestam os dons que recebeu de Deus e dão alegria e orgulho aos membros da Igreja. Assim se manifesta a virtude da magnanimidade que deve haver no Papa, isto é, sua grandeza de alma, que provém da virtude da fortaleza, da qual tanto vai necessitar para cumprir fielmente sua missão e que terá de mostrar em face de um mondo hostil. Além disso, é necessário que queira ser Papa e não unicamente bispo de Roma... São Tomás de Aquino diz que recusar essas honras legítimas é algo repreensível.(4)

O que não impede que o Romano Pontífice manifeste simplicidade e bondade em suas relações com os demais, pelo contrário. Suas qualidades pessoais e sua santidade devem edificar e servir de irradiação do papado no mundo. Da virtude da magnanimidade deve derivar-se a da magnificência: “ver e fazer grande” para a glória de Deus e honra da Santa Igreja. Assim é como se explica o fasto dos ofícios pontifícios e da liturgia católica, que tem como finalidade honrar a Deus e reproduzir na terra algo da liturgia celestial.

Como o Santo Cura d'Ars possuía essa magnificência, exclamava: “Não há nada que seja belo demais para Deus!” Acaso não teriam os pobres, precisamente porque são pobres, direito de assistir a formosas cerimônias litúrgicas que tributam dignamente glória a Deus e que os elevam por sobre seus infortúnios?

O esplendor da liturgia transcende os séculos e as pessoas. Constitui o patrimônio da Igreja oferecido a todos os seus filhos, para ajudá-los a louvar a Deus e atrair sobre si as divinas bondades. A solenidade da liturgia manifesta a fé que anima a Igreja Católica.

Essa magnanimidade e magnificência brilharam de modo exemplar em São Pio X, que provinha de um meio social modestíssimo. Aceitou todas as honras exteriores devidas a seu cargo em prol do bem da Igreja, ainda que sua humildade pessoal sentisse repugnância por isso, conservando ao mesmo tempo uma pobreza edificante no pessoal.

Seu ensinamento foi de grande firmeza, unida a uma admirável bondade para com os que se aproximavam dele. Sob seu pontificado, a Igreja conheceu uma grande irradiação. Salvou-a de muitos perigos interiores e exteriores, sobretudo do modernismo.

Foi um Papa a que todos amavam e admiravam, sendo respeitado pelas potências, mas temido e odiado pelos inimigos da Igreja, que nunca lhe perdoaram a firmeza doutrinal e diplomática que acabou desbaratando os planos deles. Pois – temos de recordá-lo? – a autoridade não se recebe para agradar aos homens, senão para propagar a verdade e o bem, e denunciar o erro e impedir o mal, tal como ensinava São Paulo: “o príncipe é ministro de Deus posto para o teu bem. Mas se obras mal, treme, porque não é debalde que ele cinge a espada, sendo como é ministro de Deus, para exercer sua justiça castigando o que obra mal”.(5) “Recapitular em Cristo todas as coisas”, como dizia São Pio X, ou seja, trabalhar para a reconstrução do reinado social de Cristo. Trata-se de um programa radicalmente oposto às máximas do último Concílio; é, ademais, o único programa que poderá salvar a Igreja da crise que hoje a abruma e trazer a paz e a prosperidade das nações.

O novo Papa deveria inspirar-se em seu santo predecessor e deveria ter presente ante seus olhos aquelas outras palavras de São Paulo: “Se ainda buscasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo”.(6) Bastaria a santidade pessoal de um Pontífice ou de um membro da hierarquia católica para tirar a Igreja da crise? Dom Lefebvre, em seu livro A Vida Espiritual, responde de modo muito claro a essa pergunta:

“Talvez alguém me diga: «o senhor está exagerando! Cada vez há mais bispos bons que rezam, que têm fé, que são edificantes...» Ainda que fossem santos, desde o momento em que aceitam a falsa liberdade religiosa, e por conseguinte o Estado laico, o falso ecumenismo (e com isso a existência de várias vias de salvação), a reforma litúrgica (e com isso a negação prática do sacrifício da Missa), os novos catecismos com todos os seus erros e heresias, eles contribuem oficialmente para a revolução na Igreja e para sua destruição.

“O Papa atual e esses bispos já não transmitem Nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim uma religiosidade sentimental, superficial, carismática, pela qual já não passa a verdadeira graça do Espírito Santo em seu conjunto. Essa nova religião não é a religião católica; é estéril, incapaz de santificar a sociedade e a família.

“Uma coisa apenas é necessária para a continuação da Igreja católica: bispos plenamente católicos, que não façam nenhum compromisso com o erro, que estabeleçam seminários católicos, onde os jovens aspirantes se alimentem com o leite da verdadeira doutrina, ponham a Nosso Senhor Jesus Cristo no centro de suas inteligências, de suas vontades, de seus corações, unam-se a Nosso Senhor por meio de uma fé viva, uma caridade profunda, uma devoção sem limites, e peça como São Paulo que se reze por eles, para que avancem na ciência e na sabedoria do «Mysterium Christi», no que descobrirão todos os tesouros divinos. (...) O mal do Concílio é a ignorância de Jesus Cristo e de seu Reino. É o mal dos anjos maus, o mal que encaminha ao inferno”.(7)

Caberia desesperar-se e lamentar-se dessas desgraças de nosso tempo? Claro que não! Isso seria algo estéril e oposto ao espírito católico, pois, como diz a Sagrada Escritura, “abyssus abyssum invocat”,(8) o abismo da prova atrai sobre os que amam a Deus a superabundância da graça. Não se deve desanimar. Como pediu Nossa Senhora de Fátima, rezemos agora mais do que nunca pelo Papa e ofereçamos penitências por ele, para que o Espírito Santo o ilumine, o guia e lhe dê forças para restaurar a Tradição, que é a única que pode salvar a Igreja. Isso constitui um dever para cada um de nós, tanto sacerdotes quanto leigos.

Agora mais do que nunca temos um dever de santidade, para que em meio às trevas brilhe em nossas almas a imagem do Redentor. Cristo deve reinar em nós, em nossos lares e em todas as nossas atividades. Assim é que Deus se deixará comover e se apressará a escutar nossas orações, vendo refletir-se em nossas almas o seu amado Filho.

Finalmente, estudemos os princípios que devem guiar-nos no rude combate da fé no qual estamos envolvidos. Para ajudar-lhes nisso, foi publicado em português o Catecismo católico da crise na Igreja, escrito pelo Padre Gaudron, da FSSPX, que teve grande difusão no distrito da França, e que os ajudará a entender melhor o que é a revolução religiosa que estamos vivendo e lhes proporcionará argumentos para responder às objeções que os outros costumam apresentar contra nós.

Ânimo, queridos amigos! Continuemos todos trabalhando com perseverança no serviço de Cristo Rei, com Fé, Esperança e Caridade, distantes dos rumores e na claridade da verdade. Não nos esqueçamos de que a Páscoa segue muito de perto o Sábado Santo!

A paixão da Igreja acabará na hora que Deus quiser. Não lhes escrevo isso com otimismo ingênuo, senão com confiança nestas palavras de nosso Salvador: “No mundo tereis tribulações, mas tende confiança: Eu venci o mundo”.(9)

Que Deus os abençoe!

Padre Christian Bouchacourt Superior de Distrito América del Sur

(1) Papa Francisco, 14 de março, discurso aos cardeais no dia seguinte à sua eleição.
(2) Papa Francisco, durante a audiência de 20 de março às diversas confissões cristãs e às outras religiões.
(3) Pio IX: “Pastor Æternus”, 18 de julho de 1870, 4ª sessão do Concílio Vaticano I.
(4) II-IIae, questão 129, artigos 1 e 3.
(5) Romanos, 13, 3-4.
(6) Gálatas, 1, 10.
(7) Dom Lefebvre: “A Vida Espiritual”, prólogo.
(8) Salmo 91, 8.
(9) João, 16, 33.