terça-feira, 18 de novembro de 2014

BENÇÃO DO QUADRO DE SÃO PIO X

BENÇÃO DO QUADRO DE SÃO PIO X
15 DE NOVEMBRO DE 2014.

 Nosso Prior, Pe. Juan Maria de Montagut, abençoou o quadro de nosso patrono São Pio X.

domingo, 19 de outubro de 2014

Santa Madalena de Nagasaki


20 de Outubro - Santa Madalena de Nagasaki

Madalena, filha de nobres e fervorosos cristãos, nasceu em 1611, num povoado muito próximo da cidade de Nagasaki, no Japão. Dizem os antigos manuscritos que era uma jovem bela, graciosa e delicada. Sua família era de fervorosos cristãos e pertencia à nobreza. Ela era muito pequena quando os seus pais e irmãos foram condenados à morte pela fé em Cristo, sendo, antes, brutalmente torturados.

Cresceu educada no seguimento de Cristo, até que, em 1624, conheceu dois agostinianos recoletos, Francisco de Jesus e Vicente de Santo Antônio. Atraída pela profunda espiritualidade dos dois missionários, que se tornaram seus orientadores, Madalena acabou sendo consagrada a Deus como terciária agostiniana recoleta. Desde então, sua roupa de nobre foi substituída pelo hábito e as únicas ocupações foram a oração, a leitura da Bíblia e o apostolado.

Eram tempos muito difíceis. A perseguição enfurecida contra os cristãos crescia a cada dia em sistemática e crueldade. Os padres Francisco e Vicente também foram martirizados. Madalena, porém, não se intimidou. Continuou firme, transmitindo coragem aos cristãos, ensinando o catecismo às crianças e pedindo esmolas e donativos aos comerciantes portugueses, para os pobres e doentes.

Em 1629, procurou refúgio nas montanhas de Nagasaki, partilhando dos sofrimentos e das agonias dessa comunidade. Encorajava para que se mantivessem fortes na fé, e recolocava no caminho do Evangelho aqueles que tinham renegado Cristo sob tortura. Levava consolo para os doentes e ainda batizava as crianças.

Diante da grande renúncia da fé pelos cristãos, aterrorizados com as torturas a que eram submetidos se não a fizessem, e ansiando por unir-se para sempre a Cristo, Madalena decidiu enfrentar os perseguidores. Vestida com o hábito, em setembro de 1634 apresentou-se aos juízes. Levava consigo apenas a Bíblia, para pregar a palavra de Jesus e meditar no cárcere. Os magistrados, admirados com sua beleza e juventude e informados que ela possuía sangue nobre, fizeram-lhe promessas de vida confortável com um vantajoso casamento. Madalena não cedeu, mesmo sabendo das horríveis torturas que sofreria.

Nos primeiros dias de outubro de 1634, foi torturada. Ficou suspensa pelos pés, com a cabeça e o peito submersos em uma fossa. Cada vez que a tiravam do suplício, era solicitada a negar a fé. Em vez disso, Madalena pronunciava os nomes de Jesus e Maria e cantava hinos de glória ao Senhor.

Resistiu a tudo durante treze dias e meio, quando as águas inundaram a fossa e Madalena morreu afogada. Depois, teve o corpo queimado e as cinzas jogadas no mar, para evitar que suas relíquias fossem guardadas pelos cristãos.

Beatificada em 1981, foi canonizada pelo papa João Paulo II em 1987. A celebração de sua memória foi marcada para o dia 20 de outubro. A Ordem Dominicana venera-a no dia 19 de novembro. Em 1989, foi proclamada padroeira da Fraternidade Secular Agostiniana Recoleta.

http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=santo&id=740

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Santa Maria Bertilla Boscardin

Santa Maria Bertilla Boscardin(1888-1922).
(Festa: 20 de outubro)
Uma simples camponesa pôde demonstrar, com suas atitudes diárias, que mesmo sem êxtases, sem milagres, sem grandes feitos, o ser humano traz em si a santidade e a marca de Deus em sua vida. Se vivermos com pureza e fé, a graça divina vai manifestar-se em cada detalhe da nossa vida.

A prova disso foi a beatificação de irmã Maria Bertilla pelo papa Pio XII, em 1952, quando ele disse: "É uma humilde camponesa". Maria nasceu em 6 de outubro de 1888, na cidade de Vicenza, na Itália, e recebeu o nome de Ana Francisca no batismo. Os pais eram simples camponeses e sua infância transcorreu entre o estudo e os trabalhos do campo, rotina natural dos filhos e das filhas de agricultores dessa época.

Aos dezessete anos, mudou o modo de encarar a vida e ingressou no Convento das irmãs Mestras de Santa Dorotéia dos Sagrados Corações, quando adotou o nome de Maria Bertilla. Paralelamente, estudou e diplomou-se como enfermeira, de modo que pôde tratar os doentes com ciência e fé, assistindo-os com carinho de irmã e mãe.

Teve uma existência de união com Deus no silêncio, no trabalho, na oração e na obediência. Isso se refletia na caridade com que se relacionava com todos: doentes, médicos e superiores. Mas era submetida a constantes humilhações por parte de uma superiora.

Depois, foi enviada para trabalhar no hospital de Treviso, mais ao norte do país. Tinha apenas vinte e dois anos de idade quando, além de enfrentar a doença no próximo, teve que enfrentá-la em si mesma também. Logo foi operada de um tumor e, antes que pudesse recuperar-se totalmente, já estava aos pés dos seus doentes outra vez. As humilhações pessoais continuavam, agora associadas às dores físicas.

Na época, estourou a Primeira Guerra Mundial: a cidade de Treviso ocupava uma posição militar estratégica, estando mais sujeita a bombardeios. Era uma situação que exigia dedicação em dobro de todos no hospital. Irmã Maria Bertilla surpreendeu com sua incansável disposição e solidariedade de religiosa e enfermeira no tratamento dos feridos de guerra.

Porém seu mal se agravou e, aos trinta e quatro anos, sofreu a segunda cirurgia, mas não resistiu e morreu, no dia 20 de outubro de 1922, no hospital de Treviso.



O papa João XXIII canonizou-a em 1961. O culto em sua homenagem ocorre no dia de sua morte. Junto à sua sepultura, na Casa-mãe da Congregação em Vicenza, há sempre alguém rezando porque precisa da santa enfermeira para tratar de males diversos, e a ajuda, pela graça de Deus, sempre chega.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Santa Margarida Maria Alacoque

SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE 

A VIDA
Essa grande Santa religiosa nasceu em Verosvres (França), em 22-7-1647, e três dias depois recebeu o batismo. Ainda muito pequena, a menina Margarida Maria rezou certo dia:
Ó meu Deus, eu Vos consagro minha pureza
e Vos faço o voto de castidade perpétua.
Quando contava oito anos, devido à morte de seu pai, passou dois anos como aluna no convento das clarissas, em Charolles, e fez ali sua primeira comunhão.
Como um indício da grande vocação religiosa a que ela era chamada, é oportuno lembrar um fato de sua vida: muito devota da Santíssima Virgem, rezava todos os dias o terço de joelhos.
Mas um dia o rezou sentada. Nossa Senhora apareceu-lhe e a repreendeu:
“Estranho muito, minha filha,
que me sirvas com tanto desleixo”.
Mais tarde, quando manifestou a familiares seu desejo de ser religiosa, esses pressionaram-na para que entrasse no convento das ursulinas.
Ela respondia:
“Eu quero ir às visitandinas, em um convento bem longe,
onde não tenha nem parentes nem conhecidas, porque
não quero ser religiosa senão por amor de Deus”.
Afinal, aos 24 anos, seu desejo se cumpriu, depois de 10 anos de provações. Entrou no convento das visitandinas de Paray-le-Monial da Ordem da Visitação de Santa Maria — instituição religiosa fundada por São Francisco de Sales (1567-1622) e Santa Joana de Chantal (1572-1641).

Esse convento francês fora escolhido por Nosso Senhor para, a partir daí, mais intensamente expandir pelo mundo inteiro a devoção a seu Sacratíssimo Coração.
O Divino Redentor quis servir-se da santa religiosa visitandina para difundir universalmente a devoção. Após sua morte, em 1690, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus estendeu-me muito, não apenas na França, mas por outros países.
Ela foi canonizada em 1920, pelo papa Bento XV.

http://santamargaridaalacoque.blogspot.com.br/

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

São Pio X - O último Papa Santo.

SÃO PIO X 
 O ÚLTIMO PAPA SANTO

Giuseppe Melchiorre Sarto, o Papa São Pio X (1903 a 1914), nasceu em 2 de junho de 1835 em uma pequena casa na aldeia de Riese, na província de Treviso, Itália, perto de Veneza.

O PAPA DA EUCARISTIA
Apagou os últimos vestígios do jansenismo ao advogar a Comunhão frequente e até diária e às crianças deu acesso a comunhão a partir dos sete anos de idade.

Em sua magistral encíclica "Pascendi Dominici Gregis" denuncia o modernismo como a síntese de todas as heresias:
"Alerto os Católicos para as detestáveis e perniciosas doutrinas e os princípios subversivos do liberalismo, e de seus indignos filhos, o socialismo e a anarquia. A tirania invasora do socialismo conduzirá ao totalitarismo, e só à luz das doutrinas Cristãs podereis opor-vos eficazmente ao progresso do socialismo, que avançará ameaçador para destruir o edifício da sociedade, já abalado. A Igreja sempre sofreu perseguições, mas desta vez as armas mudaram. Eis uma nova fase da eterna guerra declarada contra Deus, não há aí nada de novo, somente as armas empregadas, ou seja, o laicismo, a máxima expressão do idealismo e do racionalismo".
Túmulo de São Pio X.
 Seu corpo incorrupto.

O túmulo do Papa Pio X encontra-se no interior da Basílica de São Pedro numa das entradas laterais esquerda, um nicho formando um altar. No interior de uma construção em mármore está o caixão de vidro com o corpo incorrupto do Papa.
Na lápide do seu túmulo, lê-se:
"A sua tiara era formada por três coroas: pobreza, humildade e bondade".

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

24 . A TRÍPLICE ILUMINAÇÃO DO HOMEM.

24 . A TRÍPLICE ILUMINAÇÃO DO HOMEM.


Então o eterno Deus lhe disse:
- Para melhor compreenderes o que vou dize, começo por falar de algo que é pressuposto às tuas perguntas, ou seja, quais são as três iluminações que procedem de mim, luz verdadeira. A primeira é dada de modo geral, para as pessoas que vivem na "caridade comum" (v. 14.11). Mas já falei dela, bem como das duas outras. Vou repetir assuntos abordados, para que consigas entender bem as respostas ao que perguntaste. As duas iluminações seguintes encontram-se nas pessoas que tendem à perfeição. Falarei das três, descendo aos particulares daquilo que expliquei no geral.

24.1 - Iluminação da "caridade comum"

Como afirmei antes (14.10), ninguém consegue seguir o caminho da verdade sem a luz da razão - recebida de mim com a inteligência - e sem aluz da fé, infundida na hora do santo batismo, supondo que não destruais esta última com vossos pecados. No batismo, a luz da fé vos é dada na força do sangue de meu Filho. Associada à luz da razão, ela vos alcança a vida e ajuda na caminhada para a verdade. Sem a fé iríeis nas trevas. Desta iluminação da fé derivam as duas outras, e até uma terceira, que vos são necessárias.
A primeira iluminação revela ao homem a transitoriedade das realidades terrenas, que passam como o vento. Tal atitude supõe, todavia, que tenhais consciência da própria fraqueza, tão inclinada a rebelar-se, já que existe nos vossos membros uma lei perversa (Rm 7,23), que vos leva a revoltar-se contra mim, vosso criador. Tal "lei" não obriga ninguém a pecar contra sua vontade, todavia combate contra o espírito. Permiti semelhante lei, não para serdes vencidos, mas a fim de provar vossas virtudes. É nas situações adversas que as virtudes são experimentadas. A sensualidade opõe-se ao espírito; é através dela que o homem comprova seu amor por mim, o criador. De que modo? Opondo-se às suas tendências, derrotando-as. Quis eu ainda, essa perversa lei para que o homem fosse humilde. Criei-o à minha imagem e semelhança, dei-lhe grande dignidade e beleza. Unindo a alma a um corpo, dei-lhe aquela lei como companheira. Era minha intensão que a alma não se orgulhasse diante da própria beleza. Para quem tem fé, portanto, o corpo é instrumento de humildade. O corpo é frágil, nada possui que seja razão de orgulho, pelo contrário, deve ser motivo de verdadeira e perfeita humildade. De si mesma a sensualidade não conduz ninguém ao pecado, mas apenas induz ao reconhecimento do próprio nada; revela a fragilidade do que é terreno.
 É preciso que a inteligência humana, sob a luz da fé, reconheça tal coisa; trata-se justamente daquela iluminação "geral" de que falei, indispensável para todos os que desejam participar da vida da graça, aproveitando os efeitos da morte do Cordeiro imaculado. Ela é necessária para todos, qualquer que seja o estado de vida; é a iluminação da "caridade comum", universal. Todos (os cristãos) devem possuí-la, sob pena de serem condenados; quem não a tem, não está na graça divina; desconhece o pecado, suas causas; por isso não o odeia, não o evita. Ora, a pessoa que ignora o bem e a virtude não pode reconhecer-me, não pode ser virtuosa, não adquire a graça, único meio que a mim conduz. Percebes quanto é importante esta iluminação?
Vossos pecados consistem no amor por realidades que abomino; consistem em abominar coisas que eu amo. Pois bem! Amo a virtude, detesto o vício. Quem ama o vício, ofende-me; é um cego a caminhar, sem saber o que é o pecado, o que é o egoísmo, quais são as consequências do pecado. O pecador ignora o que seja a virtude, ignora que sou a fonte da vida, desconhece a dignidade da graça na prática das virtudes. Bem vês, a ignorância é a raiz de seus males. Donde a necessidade desta iluminação.

24.2 - Iluminação dos imperfeitos   

Após ter recebido a precedente iluminação geral, o cristão não deve dar-se por satisfeito. Enquanto viveis neste mundo, podeis e deveis progredir. Se alguém estaciona, por isso mesmo retrocede. É necessário crescer naquela iluminação recebida com a graça, ou superar o que é imperfeito para atingir a perfeição. De fato, existe uma segunda iluminação para quem aspira à perfeição. Ela é dupla para aqueles que se elevaram do comum comportamento no mundo.
O primeiro é dos que se põem a castigar o corpo com grandes penitências, com a intenção de sujeitar a sensibilidade ao controle da razão. Estes dedicam mais esforço em dominar o corpo, que em destruir a vontade própria como já disse antes. São homens que vivem de penitências. Conseguirão ser bons, até perfeitos, se agirem com discernimento, se possuírem um humilde conhecimento de si mesmos e da minha divindade, se julgarem a respeito de si mesmos como eu o faço e não à maneira dos homens. Se a estes penitentes faltar humildade e conformação à minha vontade, regredirão na virtude. Estes últimos costumam condenar quem caminha por outras estradas; empenham-se unicamente na mortificação do corpo, não da vontade; gostam de escolher para si, de acordo com as próprias preferências, ocasiões, situações e confortos espirituais, bem como os sofrimentos e lutas contra o demônio. De tudo isso já falei quando me ocupei do estado próprio dos imperfeitos (18.1.2). Enganados por aquilo que denominei "egoísmo espiritual", tais pessoas se iludem, dizendo: "Gostaria de sentir estas e estas consolações, ao invés de sofrer as presentes impugnações e tentações do demônio. Não por mim mesmo, mas para poder agradar mais a Deus, para possuí-lo mais intensamente através da graça. Penso que nas consolações eu o experimentaria e o possuiria melhor!".
Com semelhante atitude, o homem termina muitas vezes na angústia e no desânimo, desespera-se, prejudica o próprio aperfeiçoamento, sem perceber que na base de tudo está o orgulho. Se em lugar do orgulho houvesse humildade, compreenderia que eu, bondade primeira bondosíssima, dou tudo - estado da alma, acontecimentos, acontecimentos, situações, consolações, sofrimentos - em conformidade com as exigências da vossa santificação, visando vosso aperfeiçoamento; entenderia que tudo faço por amor. É no amor que a pessoa há de aceitar todos os eventos, como o fazem aqueles que estão no terceiro e quarto estados dos quais passo a falar.

  24.3 - Iluminação dos perfeitos

O segundo modo de caminhar no aperfeiçoamento encontra-se no terceiro estado; os que chegam a esta iluminação comportam-se bem em tudo que fazem, respeitando devidamente tudo quanto lhes sucede. Disto já falei brevemente ao tratar do terceiro e quarto estados (18.4 e 18.5). Julgam-se merecedores das contrariedades provocadas pelo mundo, indignos de qualquer consolação, de qualquer conforto depois do sofrimento. Nesta iluminação eles compreendem que minha vontade eterna apenas deseja seu bem; tudo quero ou permito para que sejais santos. Com esse conhecimento, o homem se conforma ao meu querer e se preocupa unicamente em achar os meios necessários para santificar-se. Deseja louvar-me e glorificar-me. Fixa então o olhar da fé em Jesus crucificado e nele encontra a norma de todos, perfeitos e imperfeitos. A descoberta dessa mensagem de perfeição do Verbo encarnado leva-os a se apaixonarem por ela. Eis em que consiste tal mensagem de perfeição: que Cristo, repleto de desejo santo, vivia sedento da minha glória e salvação dos homens; que em força desse desejo santo, ele correu ao encontro da terrível morte na cruz, cumprindo a obediência que eu lhe impusera; que não procurou evitar as dificuldades e injúrias, nem desanimou diante da ingratidão e má vontade humana em reconhecer o grande dom aos homens oferecido; que não fugiu das perseguições dos judeus, das caçoadas, críticas e vociferações do povo, mas pelo contrário, tudo venceu, como autêntico general, como bom soldado colocado por mim no campo da luta a fim de libertar-vos das mãos do diabo. Sim, Cristo vos libertou da pior escravidão! Ao versar seu sangue num imenso ato de caridade, ensinou-vos a estrada que conduz até mim e disse: "Eu construí o caminho, com minha paixão abri a porta; não sejais negligentes em caminhar, permanecendo sentados no egoísmo, de má vontade, com a presunção de servir-me a vosso modo. Eu, Verbo eterno, fiz a estrada em mim mesmo e a percorri no sangue".
Levantai-vos, pois, e imitai o Verbo encarnado! Ninguém pode vir a mim, senão por meio dele (Jo 14,6). Ele é o caminho e a porta, pelos quais deveis passar antes de atingir-me, oceano de paz.
Quem recebe esta iluminação, alegremente procura a mesa do desejo santo, sem pensar em si mesmo quanto a consolações espirituais e materiais. Tendo imergido sua vontade nessa luz, aceita todos os cansaços, venham de onde vierem; suporta as tentações do demônio e as oposições dos homens; junto à cruz, arde no desejo de minha glória e da salvação humana. Nenhuma recompensa procura, seja da minha parte como da parte dos homens. O perfeito despojou-se do amor interesseiro (18.1.2), pelo qual me amava pensando em si mesmo. Agora, uma luz sem defeito o envolve. Ama-me desinteressadamente, sem aspirar por consolações; ama o próximo sem esperar compensações pessoais. Ama simplesmente por amar! Tais pessoas já não mais se pertencem. Despojaram-se do homem velho - a sensibilidade - e revestiram-se do novo, Jesus Cristo, a quem seguem virilmente. Tomados pelo desejo santo, procuram dominar a própria vontade, mortificar o corpo. Fazem penitências, mas não como se fossem a sua meta principal; fazem-nas apenas par eliminar a vontade própria, na maneira que expliquei ao falar daquela minha expressão: "Gosto de poucas palavras e de muitas ações". Tal deve ser também vosso modo de agir. O maior esforço oriente-se para a destruição do egoísmo; imite-se o Cristo crucificado, com o desejo de glorificar-me e de salvar a humanidade. É o modo de agir daqueles que se encontram nesta iluminação. Vivem em paz, tranquilos. Uma vez eliminado o fundamento de todo o mal, que é a vontade própria, já não se perturbam. Eles sabem que as perseguições do mundo e do demônio, são permitidas por mim. Mesmo num mar de contradições, saem ilesos. São ramos enxertados no tronco do amor.
Alegram-se em todos os acontecimentos. Os perfeitos e perfeitíssimos nada julgam sobre os meus servidores; nem a respeito de ninguém. Tudo os leva a exclamar: "Agradeço-te, Pai eterno, porque em tua casa existem muitas moradas". Notando diversos modos de agir, alegram-se mais do que se vissem todos caminhar por uma mesma estrada; compreendem que dessa maneira meu ser é mais bem revelado. Sempre otimistas, de todas as coisas extraem o perfume da rosa, e não apenas aquilo que é bom. No que se refere às ações que parecem pecado, preferem não omitir juízos. Unicamente sentem compaixão. Oram pelos pecadores e com humildade refletem: "Hoje toca a ti, amanhã a mim, se a graça divina não me proteger".
Ó filha querida, apaixona-te por este excelente estado de perfeição. Vê como esses progridem sob tão grande iluminação. Como são grandes! Têm o espírito santificado, estão sedentos pelo desejo santo, preocupam-se com a salvação dos outros, porque me amam. Revestiram-se de meu Filho, vivem sua mensagem com inflamado amor. Não perdem tempo a julgar falsamente meus servidores, nem a condenar os que seguem o mundo; não se preocupam com as maledicências contra si e contra os outros: se forem contra si mesmos, suportam-nas alegremente por meu amor; se forem contra o próximo, sentem compaixão e não ficam a murmurar contra o ofensor ou o ofendido; sua caridade para com os outros é reta, sem distorções. Assim sendo, filha caríssima, não se escandalizam, nem pelas pessoas amadas nem por ninguém. Tendo morrido sua vontade própria, nunca julgam a vontade alheia; apenas consideram os desejos da minha clemência 89
(89 - Nos escritos de Catarina a "clemência do Pai é o Espírito Santo).
Os perfeitos e perfeitíssimos vivem aqueles ensinamentos que te foram dados no princípio de tua vida, quando fervorosamente suplicavas atingir a pureza total. Refletias, então, sobre o que fazer para consegui-la e te adormentaste. Quando voltaste aos sentidos, a voz do meu Filho ressoou nos teus ouvidos, dizendo:
"Desejas chegar à pureza completa? Desejas livrar-te das preocupações, de modo que teu espírito em nada se escandalize? Procura estar sempre unida a mim no amor, pois sou eu a pureza suma e eterna; sou o fogo que purifica o homem. Quanto mais alguém se avizinhar de mim, mais puro será; quanto mais distante, mais impuro. Quem se une diretamente a mim participará da minha pureza. Há uma segunda coisa que deves fazer para atingir tal união e pureza: ao veres ou ouvires de quem quer que seja, afirmações referentes a mim ou aos homens, não pronuncies julgamentos. Diante de um pecado evidente, procura extrair uma rosa do espinheiro. Em outras palavras: oferece tudo a mim com santa compaixão! Relativamente às ofensas cometidas contra ti mesma, lembra-te de mim, pois sou eu que permito tais coisas para experimentar tua virtude. Para experimentar em ti e nos demais servidores. Recorda-te de que o ofensor foi mero instrumento meu, e que ele age muitas vezes com reta intenção. Ninguém tem o direito de julgar o segredo do coração humano. Se uma ação não te parecer pecado mortal claro, evidente, não julgues interiormente além de quanto faço eu, que estou presente naquelas pessoas; se notares um pecado certo, não condenes; procura apenas compadecer-te. Comportando-te deste modo, chegarás à pureza perfeita. Teu espírito não se escandalizará, nem por minha causa nem por causa dos homens. Quando julgais iníqua a vontade de alguém, como contrária a vós, sem perceber no acontecido um desígnio meu, nasce em vós uma certa raiva contra aquela pessoa; tal raiva vos afasta de mim e prejudica vosso aperfeiçoamento. Em certos casos, chega a eliminar a graça, conforme a maior ou menor gravidade do rancor concebido contra o irmão no momento de condená-lo. Tal é a minha vontade, para vosso bem! Tudo quanto quero ou permito tem uma finalidade: que atinjais a meta para a qual vos criei! Quem ama o próximo, sempre me ama; quem me ama, acha-se unido a mim. Portanto, se desejas a pureza que suplicas, deves realizar três coisas principais: unir-te a mim no amor com a lembrança dos favores recebidos; entender o inestimável amor que vos dedico; não julgar má a vontade alheia, procurando ver nela a minha vontade. Eu sou o juiz; vós não! Assim agindo, muito aproveitarás".
Se bem recordas, foram esses os ensinamentos do meu Filho. Afirmo-te, querida filha, o seguinte: as pessoas que aprenderam a viver tal mensagem, possuem desde este mundo a garantia do céu. Conservando esta mensagem no espírito, escaparás das tentações do demônio e da dificuldade sobre a qual me interrogaste, pois estarás preparada para isso. Mas para ficar mais claro, descerei a maiores detalhes, respondendo aquele teu pedido; vou mostrar-te que vossos julgamentos não devem ser de condenação, mas de compaixão.
Eu disse acima que os perfeitos e perfeitíssimos já possuem a certeza do céu; mas não o possuem ainda. Esperam recebê-lo como recompensa de mim, que sou a verdadeira vida: vida sem morte, saciedade sem fastio, fome sem carência; hão de receber o que desejam, porque o alimento sou eu. Sim, nesta vida já têm a garantia de ir para o céu e experimentam-na. Aqui a alma começa a ter sede da minha glória e da salvação dos homens; sacia tal sede operando no amor pelo próximo. É uma sede insaciável, um desejo que cresce cada vez mais. Todo penhor constitui um início de segurança dado a um homem, em força do qual ele espera receber o pagamento. Em si o penhor não é algo perfeito e supõe a fé, que causa a certeza de receber a paga. O mesmo acontece com a pessoa apaixonada pela mensagem de meu Filho; desde esta vida recebeu a certeza do amor por mim e pelo próximo. Em si mesma, não é uma garantia total, mas prenuncia a perfeição da vida imortal. Tal penhor não é, ainda, a perfeição. Quem o experimenta não saboreia o todo e sente dores em si e por causa dos outros. Em si, por ofender-me devido à lei perversa que faz o corpo combater contra o espírito; nos outros, por causa dos pecados alheios. No entanto, tal penhora é algo de perfeito na realidade da graça, embora não atinja - como disse - o grau dos bem-aventurados que já chegaram até mim. Vida que não mais termina. As aspirações dos santos não contêm sofrimentos; as vossas, sim!
Como disse antes (18.5.3), os perfeitíssimos são sofredores e felizes, à semelhança do meu Filho quando se achava pregado na cruz. Então o corpo de Jesus achava-se doloroso e atormentado, mas sua alma era feliz na união com a divindade. Também os perfeitos e perfeitíssimos, revestidos da minha vontade, são felizes na união de desejos comigo; de outro lado sofrem, porque sentem compaixão pelos outros e afligem a própria sensibilidade, privando-se dos prazeres e gozos da mesma.

24.4 - Deus solicita atenção a Catarina

Filha querida, presta atenção agora, para que fiques esclarecida a respeito do que me perguntaste. Falei-te (24.2) da iluminação comum, necessária a todos, qualquer que seja a vossa condição. Trata-se da iluminação das pessoas que vivem na "caridade comum". Depois expliquei sobre a iluminação da caridade em aperfeiçoamento, que dividi em duas: a daqueles que deixam a vida no pecado mortal e procuram mortificar o corpo e a iluminação de quem eliminou inteiramente o egoísmo. Estes últimos são homens perfeitos, que se alimentam na mesa do desejo santo. Agora, passo a responder às tuas perguntas. Falo diretamente a ti, e por intermédio, aos demais.

24.5 - Três atitudes fundamentais

Desejo de ti três atitudes, a fim de não impedires o aperfeiçoamento a que te chamo e para que o demônio, sob a aparência de virtude, não instile em teu coração a semente da presunção, que poderia levar-te àqueles falsos julgamentos, que te desaconselhei. Pensando estar na verdade, errarias. Às vezes, o demônio até faz conhecer exatamente a realidade, mas para conduzir depois ao erro. A intenção do maligno é transformar-te em juiz dos pensamentos e intenções dos outros. Mas o julgamento, como disse, só a mim pertence.

24.5.1 - Não corrigir o próximo

A primeira coisa que te peço, é que retenhas tua opinião e não julgues os outros imprudentemente. Eis como deves agir: Se eu não te manifestar expressamente, não digo uma ou duas vezes, mas diversas vezes, o defeito de uma pessoa, jamais deves fazer referências sobre tal coisa diretamente à pessoa, que julgas possuí-lo. Quanto aos que te visitam, corrigirás os defeitos genericamente, mediante conselhos sobre as virtudes, e isto com amor e bondade. Em caso de necessidade, usarás de firmeza, mas com mansidão. No caso de que eu te revele por diversas vezes os defeitos alheios, mas não tiveres certeza de que é uma revelação expressa, não fales diretamente sobre o caso. A fim de evitar a ilusão do demônio, segue o caminho mais seguro. O diabo pode enganar-te sob a aparência de caridade, fazendo-te condenar os outros em assuntos não verdadeiros, com escândalo mesmo. Nesses casos, esteja na tua boca o silêncio.
Ao perceberes defeitos nos outros, reconhece-os primeiramente em ti com muita humildade. No caso de existir realmente o pecado em alguém, mais facilmente ele corrigir-se-á se for compreendido bondosamente. A correção que não ofende, obrigá-lo-á a emendar-se. Aquela pessoa confirmará quanto querias dizer e tu mesma te sentirás mais segura, impedindo a intervenção do demônio, o qual não conseguirá enganar-te, prejudicando teu aperfeiçoamento. Convence-te de que não deves acreditar em opiniões. Ao escutá-las, atira-as para trás, nas costas; não as leve em consideração. Procura ir examinando apenas tua própria pessoa e minha bondade, tão generosa. Esta é a atitude de quem alcançou o último grau da perfeição e que, como já disse, sempre retorna ao vale do autoconhecimento. Atitude que, no entanto, não lhe impede o elevado estado de união comigo.
Esta é a primeira coisa que deves praticar, a fim de me servires na verdade.

24.5.2 - Não julgar o interior do homem

Passo a falar da segunda atitude.
Quando estiveres orando diante de mim por alguém e acontecer de perceberes a luz da graça numa pessoa e em outra não, parecendo-te que esta última está envolta em trevas, não deves concluir que a segunda se acha em pecado mortal. Teu julgamento seria muitas vezes errado.
Outras vezes, ao pedires por uma mesma pessoa, de uma feita a verás luminosa e tua alma sentir-se-á fortalecida naquele amor de caridade pelo qual o homem participa do bem do outro; numa outra vez, o espírito daquela pessoa parecerá distante de mim, como que em trevas e pecado, fato que tornará penosa tua oração em seu favor, ao quereres conservá-la diante de mim.
Este último fato pode acontecer, às vezes, devido à presença de pecados naquele por quem oras; mas, na maioria dos casos será por outras razões. Fui eu, Deus eterno, que me afastei da pessoa. Conforme expliquei ao tratar dos estados da alma (18.1.2), retiro-me das almas a fim de que elas progridam no amor. Embora a alma continue em estado de graça, ausento-me quanto às consolações e deixo o espírito na aridez, tristonho e vazio. Quando alguém ora por tal pessoa, costumo transmitir-lhe esses mesmos sentimentos. Quero que ambos, unidos, se entreajudem no afastamento da nuvem que pesa sobre aquela alma.
Como vês, filha querida, seria iníquo e digno de repreensão, se alguém julgasse que a alma está em pecado mortal somente porque a fiz ver envolta em dificuldades, privada de consolações espirituais que possuía antes. Tu e meus servidores deveis esforçar-vos por conhecer-vos melhor, bem como, por conhecer-me. Quanto a julgamentos semelhantes, deixai-os para mim. A mim, o que me pertence; vós, sede compassivos e desejosos de minha glória e salvação dos outros homens. Manifestai as virtude e repreendei os vícios, tanto em vós como nos outros, segundo a maneira como indiquei acima (24.5.1). Desse modo chegareis até mim, após entender e viver a mensagem do meu Filho, a qual consiste na preocupação consigo mesmo, não com os demais. É assim que deveis agir, se pretendeis praticar a virtude desinteressadamente e perseverar na última e perfeitíssima iluminação (24.3), repleta de desejo santo, isto é, de zelo pela minha glória e pela salvação do próximo.

24.5.3 - Respeitar a espiritualidade alheia 

Após discorrer sobre as duas primeiras atitudes, ocupo-me da terceira. Quero que me prestes muita atenção, a fim de que o demônio e tua fraca inteligência não te façam obrigar outras pessoas a viver como tu vives. Tal ensinamento seria contrário à mensagem do meu Filho.
Ao ver que a maioria das almas segue pela estrada da mortificação, alguém poderia querer orientar todos os outros a seguirem pelo mesmo caminho. Ao notar que uma pessoa não concorda, aquele conselheiro se entristece, fica intimamente contrariado, convencido de que o fulano age mal.
Grande engano! Na realidade está mais certo quem pareceria andar errado, fazendo menos penitência. Pelo menos será mais virtuoso, sem grandes macerações, do que aquele que o fica a criticar. Já te disse que devem ser humildes aqueles que se mortificam. Considerem as penitência meros instrumentos, não como a meta. Normalmente, as murmurações prejudicam o aperfeiçoamento no amor. Quem se penitencia, não seja mau, não ponha a sua santidade unicamente no macerar o corpo. O aperfeiçoamento encontra-se na eliminação da vontade própria. A atitude desejável para todos é que submetam a má vontade pessoal à minha vontade, tão amorosa. É isso o que eu desejo. É esse o ensinamento do meu Filho. Quem o seguir estará na verdade.
Não desprezo a penitência. Ela é útil para reprimir o corpo, quando ele se opõe ao espírito. Mas, filha querida, não a deves impor como norma. Nem todos os corpos são iguais, nem todos possuem a mesma resistência física. Um é mais forte que o outro. Como afirmei, muitas vezes motivos fortuitos aconselham a interrupção de alguma mortificação iniciada. Ora, seria falsa tal afirmação, se a penitência fosse algo de essencial para ti ou para outra pessoa. Se a perfeição estivesse na mortificação, ao deixá-la, julgaríeis estar sem minha presença, cairíeis no tédio, na tristeza, na amargura e na confusão. Deixaríeis o exercício da oração, realizando ao mortificar-se. Interrompida assim, com tantos inconvenientes, a mortificação nem seria mais agradável ao ser retomada.
Eis o que aconteceria, se a essência da perfeição consistisse na mortificação exterior e não no amor pela virtude. Grande é o mal causado pela mentalidade, que põe na penitência o fundamento da vida espiritual. Tal mentalidade deixa a pessoa sem compreensão para com os outros, murmuradora, desanimada e cheia de angústias. Além disso, todo vosso esforço para honrar se basearia em ações finitas, ao passo que exijo de vós um amor infinito. É indispensável que considereis como elemento básico de vosso aperfeiçoamento a eliminação da vontade própria; submetendo-a a mim, fareis um ato de desejo agradável, inflamado, infinito para minha honra e para a salvação dos homens. Será um ato de desejo santo, que em nada se escandaliza, que em tudo se alegra, qualquer seja a situação que eu permita para vosso proveito.
Não se comportam desse modo os infelizes que seguem por estradas diferentes daquela, reta e suave, ensinada por meu Filho. Comportam-se de outro jeito: julgam os acontecimentos de acordo com a própria cegueira e com o errado ponto de vista; caminham como louco sem tirar proveito dos bens terrenos nem gozar dos celestes. Como afirmei antes, já possuem a garantia do inferno. 

24.5.4 - Resumo das três atitudes anteriores

Essa é a resposta às tuas perguntas, filha querida, sobre a maneira de corrigir o próximo sem ser enganada pelo demônio e sem conformar-te ao teu fraco modo de pensar. Disse (24.5.1) que deves corrigir o próximo genericamente, sem descer aos casos pessoais. A não ser que eu te revele expressamente a situação de pecado; mas assim mesmo, com muita humildade.
Disse também (24.5.1), e torno a repetir, que jamais deves julgar o próximo, em geral ou em particular, pronunciando-te sobre o estado da sua alma, seja para o bem como para o mal. Expliquei o motivo: o julgamento pessoal é sempre enganador. Tu e os outros servidores meus, deixai para mim todo julgamento.
enfim,expus a doutrina relativa ao fundamento verdadeiro da perfeição (24.5.3), o qual deves ensinar a quem te procurar desejoso de abandonar o pecado e praticar a virtude. Ensinei que deves apresentar como atitude básica o amor à virtude, o autoconhecimento e o conhecimento do meu ser. Ensinarás a tais pessoas, que destruam a vontade própria, que jamais se revoltem contra mim, que considerem a penitência como um meio, não como finalidade principal. Afirmei ainda que não deves aconselhar a mortificação em grau igual para todos, mas de acordo com a capacidade de cada um, em seu estado de vida. A uns pedirás pouco, a outros mais, segundo a capacidade corporal.
Pelo fato de dizer-te que só deves corrigir genericamente, não pretendo afirmar que jamais hás de corrigir pessoalmente. Serás até obrigada a fazê-lo. Quando alguém se obstina em não emendar-se, podes recorrer a duas ou mais pessoas; e se isso for inútil, apresenta o caso à hierarquia da santa Igreja. Ensinei que não deves corrigir tomando como norma teu modo pessoal de ver, teu sentimento interior; baseando-te nele, não podes mudar de opinião sobre as pessoas. Sem prova evidente ou revelação expressa, não repreendas ninguém. Tal modo de agir é o mais seguro para ti, pois ele evita que o demônio te engane com aparências de amor fraterno.

24.6 - Visão e alegria espiritual

Filha querida, expliquei-te o que é necessário fazer para o aperfeiçoamento da alma; vou atender agora àquele teu pedido, relativo à minha presença durante as visões ou demais manifestações, que alguém julgue ter. Disse que o sinal distintivo de que estou visitando a alma é a alegria, o desejo das virtudes e, sobretudo, grande humildade e amor. Tu me perguntaste, porém, se a alegria não pode iludir a alma. Desejas estar do lado mais seguro, queres um sinal definitivo de que não padeça engano. Vou falar-te de uma possível ilusão e sobre o modo de saber quando a alegria é autêntica ou não.
A ilusão possível é esta: alegra-se uma pessoa, quando obtém aquilo que desejava. E quanto maior for seu desejo, menor atenção prestará à causa da alegria. A posse do objeto desejado, o prazer sentido, impedem que sua consideração seja clara e distinta. Isto acontece com almas que gostam de consolações espirituais e vivem à procura de visões, depositando maior interesse nelas que em mim. Já te disse (18.1.2) que essa é a atitude daqueles que estão no estado do amor imperfeito. Eles se aplicam mais em obter consolações, do que em amar. Pois bem, é exatamente neste ponto que se acha a ilusão relativa à alegria. Outros enganos existem, mas deles já falei longamente (18.3.2). No caso presente, como acontece?
Quem ama as consolações espirituais, alegra-se grandemente ao recebê-las. Contente em possuir quanto desejava, muitas vezes se rejubila por artifícios do demônio. Já ensinei (18.3.2.3) que as visões ou consolações provocadas pelo demônio começam causando alegria, mas que depois se transformam em sofrimento e remorso, num vazio da caridade e das virtudes que leva a pessoa ao abandono da oração. Portanto, se a satisfação e a alegria não estiverem acompanhadas de amor pela virtude; se a pessoa não for humilde e muito caridosa, é sinal de que tal visita ou consolação não procede de mim, mas do diabo. Como disse, todo prazer espiritual não acompanhado de virtude, revela claramente que sua origem provém do apego à auto-consolação. 
Todo homem se alegra ao conseguir o que ama; esta é a própria condição do amor. Disto decorre, pois, que não podes confiar somente no contentamento interior, mesmo quando ele persevere depois da visão.Por si mesma, sem outro recurso à prudência humana, a alegria é insuficiente para dizer se se trata de engano do demônio. É preciso agir com discernimento, examinando se o contentamento está acompanhado ou não pelo amor à virtude. Isso dirá se a visita interior é minha ou do diabo. O sinal de que falava, portanto, é o seguinte: o que prova minha presença na alma é a alegria interior com as virtudes. É um sinal que demonstra a verdade: diz se há ilusão ou não, indica se o contentamento vem de mim, do egoísmo ou do demônio. A alegria causada por mim contém amor à virtude; aquela causada pelo diabo limita-se unicamente ao contentamento. Um exame atento fará ver que a virtude da pessoa, após a consolação, continua a mesma de antes; o contentamento em si é somente indício do amor por si mesmo.
Quero dizer-te, porém, que somente os imperfeitos caem nesta ilusão do enlevo pelo prazer espiritual, dando mais valor ao dom que ao doador. Os homens inflamados de caridade não pensam em si mesmos, mas em mim, o doador. Por atribuírem pouco valor ao tempo presente, colocam sua felicidade espiritual em mim e não se deixam enganar. Se o diabo os tenta iludir, manifestando seus pensamentos em forma de luz, dando-lhes alegria, eles sabem distinguir. Desapegados das consolações, usam de discernimento e percebem a ilusão. Por tratar-se de uma alegria passageira, sentem-se no escuro; humilham-se, então, mediante o autoconhecimento, deixam de lado aquela consolação e apegam-se fortemente à mensagem do meu Filho. O demônio, confundido, não mais voltará, ou somente raras vezes.
As pessoas apegadas às consolações costumam receber muitas visitas do diabo em forma de luz. Que tais pessoas procurem entender, pela maneira explicada, se se trata de uma ilusão: investigue se a alegria interior está acompanhada pelas virtudes; se a alma sai dessa visão com maior humildade, caridade, desejo santo, ou seja, com mais amor por mim e pela salvação dos outros. Bondosamente providenciei que todos vós, perfeitos e imperfeitos, qualquer que seja vossa situação, não sejais enganados. Basta ter a mente iluminada pela fé e impedir que o diabo vos obscureça. Se vós mesmos não afastais o egoísmo, ninguém o conseguirá destruir em vosso lugar.

24.7 - Exortação à prece

Filha querida, disse todas essas coisas com clareza; esclareci teu espírito sobre as possíveis ilusões do demônio. Atendi aos teus pedidos, porque não desprezo os desejos dos meus servidores e costumo dar atenção a quem me implora. Até desagradam-me aqueles que, por não viver a mensagem de meu Filho, deixam de bater à porta da sabedoria. Quem realiza sua mensagem, bate à minha porta, chama-me na voz do amor e das orações humildes e contínuas. Sou o Pai que vos dá como alimento a graça do meu Filho. Ele é a porta, ele é a verdade.
Às vezes, para experimentar vosso amor e perseverança, finjo não escutar. Na realidade, escuto e concedo tudo quanto precisais. Dou-vos o desejo e a voz para pedi-lo. Se noto que sois perseverante, bondosos e que estais voltados para mim, atendo aos vossos anseios. Meu Filho vos ensinou a clamar diante de mim quando disse: "Chamai e sereis atendidos, batei e ser-vos-á aberto, pedi e recebereis". Desejo que seja esse teu modo de agir. Nunca desanimes de pedir meu auxílio; não abaixes a voz ao suplicar que eu use de misericórdia para com o mundo. Não deixes de bater à porta, que é meu Filho, mediante a vivência de sua mensagem. Alegra-te com ele na cruz, dedica-te aos outros e ao louvor do meu nome. Chora angustiadamente sobre o homem morto, quando o vês carregado para o cemitério em grandíssima miséria espiritual, impossível de ser descrita. Quero ser misericordioso ante esse clamor e pranto. É quanto exijo dos meus servidores; tal será a prova de que me amam. Como disse acima (24.8), não desprezo seus desejos!

23 . CATARINA OBEDECE À ORDEM DIVINA.

23 . CATARINA OBEDECE À ORDEM DIVINA.



Então aquela serva obedeceu a Deus. 
Elevou seu espírito para compreender a verdade sobre os assuntos que perguntara.

22. PEDIDO DE ATENÇÃO A CATARINA.

22. PEDIDO DE ATENÇÃO A CATARINA.



Então Deus Pai, satisfeito com as intenções daquela serva pela sinceridade do seu coração e pelo desejo de servi-lo, olhou para ela com piedade e misericórdia, dizendo:
- Ó filha e esposa, tão querida e amada! Eleva-te e esforça-te por compreender o inefável amor que sinto por ti e pelos meus servidores. Aplica o ouvido interior dos teus anseios. Quando me escutas, precisas de entendimento. Quero que te eleves acima da sensibilidade. Alegro-me com o teu pedido e vou responder-te. Certamente vós não aumentais a minha felicidade, pois sou aquele que sou! Apenas alegro-me em mim mesmo pelas coisas que criei.

21. CATARINA PEDE ESCLARECIMENTOS A DEUS.

21. CATARINA PEDE ESCLARECIMENTOS A DEUS.



Então aquela serva, inflamada de amor diante da bondosa explicação recebida de Deus sobre os estados da vida espiritual, disse-lhe:
- Agradeço-te, agradeço-te, ó Pai eterno, que realizas as santas aspirações, zeloso autor da nossa salvação, que nos amaste em teu Filho unigênito quando ainda éramos teus inimigos. Por esse teu ardente abismo de amor, imploro tua graça e o perdão. Graças a eles, consiga eu chegar livremente à tua luz, isenta de toda escuridão. Que eu progrida rapidamente na mensagem de teu Filho; que eu consiga superar as dificuldades, diante das quais estou insegura. Gostaria, Pai eterno, que desses as devidas explicações antes de passares a outros assuntos além dos estados da alma.
A primeira dificuldade é a seguinte: se alguém me procurar, ou dirigir-se a outro servidor teu, pedindo conselhos desejoso de servir-te, que conselhos devo dar? Lembro-me, ó Deus eterno, de que me disseste: "Sou aquele que gosta de poucas palavras e muitas ações", mas ficaria muito satisfeita se me falasses ainda. Pode acontecer, quando estou orando por todos os homens ou por um teu servidor, ver a alma deles bem disposta, parecendo-me que ela é do teu agrado, e ver a alma de um outro nas trevas. Em tais casos, Pai eterno, posso pensar que o primeiro se acha na luz e o outro na escuridão? Além disso, se notar que uma pessoa vive mortificando-se, e uma outra não, devo concluir que é mais perfeito aquele que se penitencia? Rogo-te; não seja eu enganada por minha limitada compreensão. Explica-me no caso particular, quanto disseste em geral.
A segunda dificuldade sobre a qual peço esclarecimentos é esta: quais são os sinais reveladores de tua presença ou "visita" na alma, para que eu possa discernir se és tu ou não? Se bem me lembro, disseste que a pessoa sente alegria e fervor na prática das virtudes. Gostaria de saber: tal alegria não pode confundir-se com a satisfação pessoal? Se assim for, então devo limitar-me a olhar a prática das virtudes?
São estas as perguntas que te faço, verdade eterna, para que eu possa servir a ti e ao próximo sem cair em falsos julgamentos contra pessoas, contra servidores teus. De fato, creio que o julgamento falso afasta o homem de ti. Prefiro não incidir nesse inconveniente.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

São Camilo de Lellis

 
São Camilo de Lellis 
 

 “Os enfermos são as pupilas do coração de Jesus, e o que fizermos por eles faremos ao próprio Deus”.

 “Que cegueira a minha, a de não vos ter conhecido antes e mais cedo, Senhor! Porque não empreguei toda a minha vida em vos servir? Perdoai, Senhor, a este pecador!”

Nasceu (BucchianicoProvíncia de ChietiReino de Nápoles em 25 de maio de 1550 - Roma14 de Julho de 1614) foi um religioso italiano, fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos (Camilianos). É venerado como santo da Igreja Católica e é considerado protetor dos enfermos e dos hospitais.
Pertencente de uma nobre e tradicional família, Camilo de Lellis foi militar e pelo seu caráter, expulso da tropa. Viciado em jogo, levava vida profana e decadente. Perdeu todos os seus bens. No momento mais melancólico de sua vida, em uma situação de mendicância, Camilo foi tocado pela graça divina, arrependendo-se de todos os seus pecados, passando a dedicar sua vida a servir, por espírito de caridade, aos doentes pobres em hospitais. E diante de tanta dedicação, fundou a Companhia dos Servidores dos Enfermos, conhecidos como Camilianos. E não é por menos que tornou-se patrono dos enfermos e dos hospitais.
Seu sobrenome remonta à história da igreja, época de Teodoro de Lellis, o Cardeal Pio II. Mas São Camilo de Lellis fez a própria história e deixou sua fé e sua dedicação aos enfermos disseminadas por todo o mundo.
São Camilo era italiano de Abruzzo, mais precisamente da cidade de Bucchianico. Em 1550, ano de seu nascimento, sua família carregava no sangue virtude, coragem e brio dos que lutaram nas Cruzadas.
Seu nascimento coroou o casamento de tantos anos da senhora Camila, a mãe, que até os 60 anos de idade não tinha conseguido dar um herdeiro ao esposo João.
Vida Voluntária

E foi com 17 anos que Camilo alistou-se como voluntário no exército de Veneza. Naquela época, pôde conviver com o drama dos enfermos que agonizavam diante de várias doenças. Foi dessa época também que Camilo passou a viver com uma dolorosa úlcera no pé, que o acompanhou até o último dia de vida. Nesse período, também sofreu a perda do pai e sua vida enveredou-se para os prazeres mundanos, como o da jogatina.
A vida de Camilo mudou completamente. Sofreu diante da falta de condições financeiras e de saúde. Doente, não conseguiu local para internar-se, o que o fez partir para Roma, pedindo auxílio no Hospital Santiago, justamente para tratar da chaga no pé direito. Camilo não tinha dinheiro para pagar o tratamento e ofereceu-se para trabalhos de servente e de enfermeiro.
Mal cicatrizada a ferida, Camilo, sem nenhum recurso financeiro, soube que o país recrutava voluntários para combater os turcos. E lá foi ele. Não parou tão cedo. Em 1573, quase restabelecido economicamente, Camilo, mais uma vez, rendeu-se aos prazeres mundanos e atirou-se aos jogos. Perdeu tudo. Ficou a zero, reduzido à miséria. Retornou a Nápoles e prometeu se fazer religioso franciscano.
Um ano depois, Camilo esqueceu-se do voto que fizera de se tornar religioso franciscano e mergulhou novamente no jogo. O jogo e a bebida tornaram-se vícios em sua vida. Ficou novamente na miséria. Partiu para Veneza. Passou frio e fome. Não tinha onde morar, nem dormir. Em uma das derrotas no jogo, deu como pagamento a própria camisa. Depois de muito perambular, conseguiu abrigo no convento dos capuchinhos, momento em que lembrou do voto de tornar-se religioso. Converteu-se realmente.

Cumpriu Abnegado Sua Missão

Camilo retornou ao Hospital Santiago , desta vez como mestre da casa. Apesar de doente, tratou dos enfermos como de si. Em 1581, com a saúde precária, decide tratar dos doentes gratuitamente. Na época, Camilo foi levado a agir assim diante da exploração, desonestidade e falta de escrúpulos dos médicos para com os doentes. Em 1582, Camilo teve a primeira inspiração de instituir uma companhia de homens piedosos que aceitassem, generosamente, a missão de socorrer os pobres enfermos, sem preocupação de recompensa. O Papa Sisto V aprova os regulamentos da companhia em 18 de Março de 1586.

Aos 32 anos voltou aos estudos sob orientação de São Felipe de Neri, sendo ordenado sacerdote aos 34 anos. A sua companhia rapidamente se distingue pela caridade no tratamento de doentes. Em 21 de Setembro de 1591, o Papa Gregório XIV a reconhece como ordem religiosa. Em 8 de Dezembro de 1591, Camilo e seus companheiros fazem a sua profissão de fé, incluindo um quarto voto de dedicação aos doentes, ainda que com risco de sua própria vida.
Na guerra que logo em seguida houve na Hungria, os "Camilianos" trabalharam como primeira unidade médica de campo, cuidando dos feridos.
Não bastou a Camilo tomar consigo apenas bons enfermeiros e alguns até médicos, os doentes careciam também de assistência religiosa. É evidente que a alma bem cuidada dispõe melhor o corpo para suportar os sofrimentos e sobrepor-se à doença. Vale destacar que antes de ser santo, Camilo não tinha qualquer ligação de fé no Senhor.
Segundo relato de um companheiro, "[Camilo] Contemplava nos doentes, com tão sentida emoção, a pessoa de Cristo que, muitas vezes, quando lhes dava de comer, pensando serem outros cristos, chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos pecados. Mantinha-se diante deles com tanto respeito, como se estivesse realmente na presença do Senhor. De nada falava com mais frequência e com mais fervor do que da santa caridade. O seu desejo era imprimi-la no coração de todos os homens".
Muito doente, Camilo renunciou em 1607 ao cargo de Superior Geral de sua Ordem Religiosa.
Faleceu em Roma aos 14 de julho de 1614. Sua festa é celebrada aos 14 de julho, data de sua morte.
Nos primeiros dias de julho de 1614, já no seu leito de morte, recebeu a última comunhão e deixou as seguintes recomendações:
"Observai bem as regras. Haja entre vós uma grande união e muito amor. Amai, e muito, a nossa Ordem, e dedicai-vos ao apostolado dos enfermos. Trabalhai com muita alegria nesta vinha do Senhor. Se Deus me levar para o Céu, vos hei de ajudar muito de lá. As perseguições que sofreu nossa obra vieram do ódio que o demônio tem ao ver quantas almas lhe escaparam pelas garras. E já que Deus se serviu de mim, vilíssimo pecador para fundar miraculosamente esta Ordem, Ele há de propagá-las para o bem de muitas almas pelo mundo inteiro. Meus padres e queridos irmãos: eu peço misericórdia a Deus e perdão ao padre Geral aqui presente e a todos vós, de todo mau exemplo que eu pudesse ter dado, talvez mais pela minha ignorância, do que pela má vontade. Enfim, eu vos concedo da parte de Deus, como vosso Pai, em nome da Santíssima Trindade e da bem-aventurada Virgem Maria, a vós aqui presentes, aos ausentes e aos futuros, mil bênçãos".
Camilo de Lellis morreu no dia 14 de julho de 1614. Seu féretro foi marcado por muita comoção e acompanhado por uma multidão. Mas um milagre era visto naquele dia: enquanto preparavam o corpo de Camilo para o funeral, os médicos, estarrecidos, notaram que a chaga havia desaparecido.
Em 1746, durante uma festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Bento XIV, no dia 29 de junho, declara Santo o nome de Camilo de Lellis.
Em 1886, Leão XIII declarou São Camilo, juntamente com São João de Deus, Celestes protetores de todos os enfermos e hospitais do mundo católico.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_de_Lellis