sábado, 24 de agosto de 2013

Carta do Pe. Cacqueray sobre a Declaração dos bispos da Fraternidade.

Carta do Pe. Cacqueray sobre a Declaração dos bispos da Fraternidade.

 
     Apresentamos aos leitores de língua portuguesa a tradução da carta que o Superior do Distrito da França, Pe. Régis de Cacqueray, enviou aos sacerdotes de seu Distrito com esclarecimentos úteis sobre a Declaração dos Bispos da Fraternidade por ocasião do 25º aniversário das sagrações episcopais. A referida carta se encontra disponível publicamente no site do Distrito da França (http://www.laportelatine.org/vatican/sanctions_indults_discussions/27_juin_2013/02_07_2013_cacqueray_au_sujet_de_la_declaration_du_27_juin_2013.php), e esperamos que possa igualmente ser de utilidade aos católicos da Tradição em nosso país.



     Caro padre,
     A Declaração Doutrinal dos Bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, de 27 de junho de 2013, exprime com clareza e força o combate pela Fé que ela deve empreender nas circunstâncias da crise na Igreja, época que lhe toca viver.
     A verdade católica e a denúncia das heresias e da perversão do espírito deste tempo de apostasia se acham expressas na mencionada Declaração. É preciso rezar para que essa Declaração ajude as autoridades da Igreja a se darem conta finalmente da dissolução cada vez mais grave da Fé católica para a qual os erros do Concílio Vaticano II as conduzem. É necessário ter esperança de que, igualmente, essa Fé consolará os nossos fieis e de que os confortará no seu apego àquela única Verdade católica.
     Depois de ter retirado a Declaração doutrinal de 15 de abril de 2012 e depois de ter retomado posições da Fraternidade na última Carta aos Amigos e benfeitores, nosso Superior geral nos comunicou agora essa Declaração de 27 de junho de 2013. Agradeçamos-lhe vivamente! Dada na ocasião dos 25 anos das sagrações episcopais de 1988 e na sequência das discussões doutrinárias com a Santa Sé, reveste-se de importância histórica ao reafirmar a natureza do combate a ser travado.
     Sejam quais foram as dificuldades desses últimos dois anos, constatamos nesse texto que as posições da Fraternidade estão claramente expressas.
     Todavia, como o parágrafo nº 11 da dita Declaração provocou certas interrogações, aproveito a ocasião para trazer algumas precisões. Esse parágrafo se contenta em expor duas evoluções possíveis das autoridades romanas. A primeira é a de que essas autoridades retornem imediatamente à Tradição e à Fé de sempre. A segunda conjectura uma fase intermédia, em que Roma reconheceria à Fraternidade o direito de professar integralmente a Fé e de rejeitar os erros que lhe são contrários, também com o direito e o dever, reconhecidos à Fraternidade, de se opor publicamente aos erros e aos fautores de erros, sejam quem for.
     É importante notar que não está dito de jeito nenhum que, nesse segundo caso – fortemente hipotético aliás – que a Fraternidade aceitaria ipso facto, então, o seu reconhecimento canônico. As circunstâncias serão minuciosamente estudadas para ver o que é prudente fazer ou não fazer para contribuir ao bem comum da Igreja Católica.
     Além disso, de jeito nenhum a Declaração de 27 de junho de 2013 faz um pedido de poder se opor aos erros e aos fautores de erros; pela bela razão de que a Fraternidade não tem de maneira nenhuma a necessidade da autorização romana para proceder como tem procedido até aqui. Ela somente espera, simplesmente, que Roma um dia lhe reconhecerá o direito; mas esse direito, ela sabe muito bem que já possui. Espera inclusive que Roma lhe imporá isso como um dever; mas esse dever ela também já sabe que lhe incumbe hoje.
     Enfim, depois de haver eu mesmo indagado nossos superiores, ouvi deles a resposta de que essa segunda hipótese suporia um papa que não seria mais modernista, um papa que estaria desiludido dos erros liberais e modernistas, mas que se encontraria muito fraco e isolado. Eis qual é o papa que poderia nos reconhecer explicitamente o direito e o dever de nos opormos publicamente aos erros e aos fautores de erros, sem que fosse ainda questão de reconhecimento canônico.
     O texto da Declaração não responde, aliás, a essa dúvida? Creio que sim. Pois pareceria contraditório que um papa modernista e liberal desse à Fraternidade o direito, e inclusive o dever, de se opor publicamente aos erros e aos fautores de erros (isto é, a ele mesmo, que continuaria prisioneiro desses erros).
     Tomemos um exemplo do mundo dos negócios. No Direito do Trabalho, fala-se de “falta grave” quando um empregado comete um ato particularmente grave, dirigido contra o bem comum da empresa. Essa falta particularmente grave deve ser imediatamente punida com uma demissão, na espera de um acerto de contas. Não se concebe evidentemente que um presidente de uma empresa dê a um de seus empregados o direito e o dever de cometer “faltas graves” contra o seu negócio!
     É exatamente isso o que faria um papa liberal ou modernista se ele reconhecesse à Fraternidade o direito e mesmo o dever de atacar os erros e os fautores de erros dentro da Igreja. Isso significaria que nos reconheceria o direito e o dever de cometer faltas graves, não contra a Igreja, o que é absolutamente óbvio, mas contra a igreja conciliar e contra a pessoa dele mesmo. Na verdade, um papa assim, a menos que tivesse enlouquecido, teria se convertido, para favorecer de tal maneira os ataques contra essa igreja conciliar.
     Claro está que nós podemos sempre nos perguntar se isso não poderia também dissimular uma tática modernista ou se esse papa não estaria querendo dizer com os vocábulos “liberalismo” e “modernismo” outra coisa diferente do que realmente significam essas palavras. Tudo é possível e tudo devia ser sopesado atentamente se a hipótese se apresentar. Mas, é justamente por esse motivo que a Declaração NÃO diz que a consequência seria a nossa aceitação de um reconhecimento canônico.
     Seria verdadeiramente paradoxal e uma obra diabólica desejar abandonar a Fraternidade quando uma Declaração como essa acaba de ser publicada. É sob o comando de nosso Superior geral, e não como franco-atiradores, que devemos continuar a travar o combate pela Fé.
     Combatamos, pois, firmemente, com todo nosso coração, apoiando-nos particularmente sobre essa Declaração. Combatamos, com inteligência e prudência, com espírito sobrenatural e na obediência a nossos Superiores. Combatamos pela glória de Deus e pela salvação das almas que nos estão confiadas.
     Combatamos sem zelo amargo, sem preguiça e sem amargura. Se acontecer que pensemos que nossos Superiores não se portam como devem no combate, não hesitemos em nos abrir a eles; mas não murmuremos entre nós.
     Do momento em que o estandarte da Fé está valorosamente desfraldado contra as heresias e contra a loucura do mundo moderno, saibamos passar por cima de tudo aquilo que é acessório e acidental. Já temos muita sorte em sermos, nestes tempos de apostasia, membros desse exército de sacerdotes católicos que defendem a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se consideramos, talvez, termos sido vítimas de injustiças ou de incompreensões, ou se o somos de fato, peçamos a graça de saber disso nos regozijar e ofereçamos em sacrifício por esse grande combate por nossa Fé.
     Esperamos de todo o coração que essa Declaração doutrinal permitirá àqueles que não estão mais conosco – D. Williamsom, antigos membros da Fraternidade ou comunidades amigas – voltarem ao seu berço. Citamos especialmente o padre Olivier Rioult. Possa essa Declaração doutrinal de 27 de junho de 2013 ajudá-lo doravante a entender que suas conferências estão erradas ao denunciarem uma traição e um acordo da Fraternidade.
     Convidamos a cada um a permanecer firme na Fé e a não pensar que exista algo como “um estado de necessidade dentro do estado de necessidade” que dispensaria, de agora em diante, de pedir autorizações e que permitiria tomar uma iniciativa qualquer.
     A esse propósito, assinalo que o livro composto pelo padre Pivert não teve a sua difusão proibida pela Casa Geral da Fraternidade. É um boato sem fundamento veiculado pelo site de Max Barret, que afirmou que eu teria permitido que se vendesse contra a ordem de nossos superiores. A realidade é que nossos Superiores não me pediram para retirar esse livro de circulação. Eu pedi ao senhor Barret para corrigir essa inexatidão.
     Enfim, tive a alegria de lhes anunciar o lançamento do site vatican2enquestions, na segunda-feira, 1º de julho de 2013, neste vigésimo quinto aniversário, quase no mesmo dia do aniversário das Sagrações de 1988.
     Tive a ocasião, na última reunião com os priores em Flavigny, de explicar os motivos na origem dessa iniciativa. Esse site nos permitirá, em particular, mostrar que o essencial de tudo o que se diz e do que se faz pelos modernistas, em nome da Igreja, hoje em dia, encontra suas reais raízes no Concílio Vaticano II. Tive a alegria de poder mostrar nesta manhã esse novo site aberto aos nossos Bispos, Dom Fellay e Dom de Galarreta, que estavam de passagem em Suresnes.
     Eu lhe peço aceitar, caro sacerdote de nosso Distrito, a expressão de toda a minha esperança e de meu devotamento sacerdotal, no Coração doloroso e Imaculado de Maria.
     Suresnes, 02 de julho de 2013.
     Padré Régis de CACQUERAY, Superior do Distrito francês da FSSPX

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