terça-feira, 25 de março de 2014

18 . DEUS PAI EXPLICA COMO ATINGIR A PERFEIÇÃO (Cont. 5)

18 . DEUS PAI EXPLICA COMO ATINGIR A PERFEIÇÃO (Cont. 5)

18.5 - Os perfeitíssimos.
Gostaria de falar-te agora do grande prazer que experimentam em mim tais pessoas, mesmo estando no corpo mortal. Ao chegar ao terceiro estado, como expliquei (18.4.1), nele alcançam o quarto. Não se trata de um estado distinto do terceiro, pois ambos são conexos; um não existe sem o outro, como acontece no amor por mim e pelo próximo. O quarto estado é mais uma consequência do terceiro, uma perfeita união comigo.

18.5.1 - Sua humildade.

Nesta união, o homem recebe um vigor extraordinário; não apenas sofre com paciência, mas deseja ardentemente padecer por minha glória e louvor. No quarto estado, ele se gloria nos sofrimentos de Cristo, à semelhança do glorioso apóstolo Paulo, que afirmava: "Eu me comprazo nas fraquezas e opróbrios de Cristo crucificado" (I Cor 12,10). E em outra passagem: "Trago em meu corpo os estigmas de Cristo crucificado" (Gl 6,17). Apaixonados por mim e sedentos da salvação dos homens, estes perfeitíssimos procuram a cruz, aspiram por sofrer muito para serem úteis aos outros. Tendo no corpo os estigmas de Cristo, anseiam por adquirir e conservar as virtudes. Em outras palavras: em seus olhos brilha o amor pelo sofrimento e por causa dele desprezam a si mesmos; alegram-se nas dificuldades; suportam varonilmente as contradições, seja qual for sua origem e modalidade. Para estes filhos queridos, a dor muda em prazer e os prazeres mundanos em cansaço. Por humildade e desapego, pouco valor atribuem em seus corações às satisfações da vida, quando sucede que os servidores do mundo - obrigados por mim - os respeitam e socorrem nas necessidades pessoais. Nem mesmo se apegam às consolações espirituais dadas por mim; por certo, não desprezam a graça e demais favores meus, mas sim o prazer que trazem. Tudo isto, como efeito da verdadeira humildade! Esta virtude origina-se do desapego de si mesmo e alimenta a caridade; supõe o autoconhecimento e o conhecimento do meu ser. Nos perfeitíssimos reluzem, pois, as virtudes e os estigmas de Cristo.

18.5.2 - Sua contínua união com Deus.

Destes perfeitíssimos não retiro as consolações espirituais, como fazia quando eram imperfeitos. Então, deixava neles a graça e retirava o prazer sensível. Agora, não ajo assim. Já tingiram grande perfeição, morreram inteiramente para si mesmos. Conservam sempre a graça com toda satisfação do espírito. Todas as vezes que desejam unir-se espiritualmente a mim, podem fazê-lo. Suas vontades se encontram num altíssimo grau de união com a minha; nada as consegue separar. Todo lugar é lugar, todo tempo é tempo de oração. Seu modo de viver desprendeu-se da terra, encontra-se no céu. Afastaram de si as afeições mundanas, bem como o amor sensível; galgaram as alturas na escada das virtudes, por aqueles degraus que figurei o corpo do meu Filho (12.1). No primeiro degrau, eles se libertaram do pecado; no segundo, saborearam o amor cordial, secreto, pelo bem; no terceiro, que é o degrau da paz e quietude do espírito, atingiram o perfeito amor. Neste último, repousam em minha verdade, descobrindo a mesa, o alimento e o servidor na mensagem de Cristo crucificado.
Eu sou a mesa. O Verbo encarnado é o alimento; seja porque nele esses meus filhos perfeitíssimos têm sede de almas, seja porque ele lhes foi dado como sustento. Em seu corpo e sangue, no sacramento eucarístico, recebe-se o perfeito Deus e o perfeito homem. Eu o dei para que vós, peregrinos e viandantes, não pareis de caminhar por fome, nem vos esqueçais do valor do sangue, derramado em vosso favor com imenso amor. Dei-o assim para que sejais fortes e vossa caminhada seja feliz. Servidor é o Espírito Santo, que concede aos perfeitíssimos favores e graça. Este amável servidor traz e leva; traz até mim os amorosos anseios e leva até eles o fruto do meu amor e de seus esforços, no qual se alimentam. Como vês, sou a mesa, meu Filho é o Alimento, o Espírito Santo que de nós procede é o servidor.

 18.5.3 - São sofredores e felizes.

Os perfeitíssimos sentem-me continuamente presente em seus espíritos; quanto mais desapegados forem da satisfação pessoal e quanto mais amarem o sofrimento, menos dor e mais contentamento receberão. Por que motivo? Porque, consumidos no meu amor, destruíram a vontade própria. O demônio teme sua força, ataca-os de longe, sem ousar aproximar-se. Os homens podem ferir-lhes o corpo; julgam prejudicá-los, mas terminam por prejudicarem-se. As flechas, não encontrando por onde penetrar, retornam contra quem as desferiu. Isto acontece na sociedade humana, nas perseguições e maledicências; procura-se fazer o mal aos meus servidores, mas não se consegue. O interior de suas almas está protegido; os dardos, envenenados de culpa, voltam-se contra seus atiradores. Fere-se o corpo, não a alma, protegida por todos os lados, invulnerável.
O servidor perseguido sofre, mas é feliz. Sofre pela culpa do ofensor; é feliz pela união amorosa que mantém comigo. Ele imita o imaculado Cordeiro; ao ser crucificado, ele padecia e era feliz. Sofria ao carregar e suportar a cruz da dor e a cruz do desejo santo, querendo satisfazer pelos homens; era feliz, no sentido que a natureza divina não podia sofrer e tornava bem-aventurada a alma de Cristo, que contemplava sem véus. Sofredor e feliz, porque o corpo sofria, mas a divindade e seu espírito, não. A mesma coisa acontece com estes meus diletos filhos, ao atingir o o terceiro e quarto estado. Padecem fisicamente e no espírito, por tolerar dificuldades corporais de um lado, e a cruz do desejo do outro. A cruz do desejo é a dor cruciante causadas pelas ofensas cometidas contra mim e pela condenação eterna dos homens. Mas são felizes por ser impossível arrebatar-lhes o dom da caridade, verdadeira fonte de alegria e felicidade. Sua dor não é aflitiva, mas nutritiva, no sentido que alimenta a alma no amor. É dor que produz aumento e fortalecimento das virtudes.
Disse que se trata de dor "nutritiva", não "aflitiva". Realmente, já mais nada consegue afastar o servidor da fornalha, como acontece com as brasas incandescentes. É coisa impossível tocar num braseiro vivo. Assim estes filhos! Atirados na fornalha do meu amor, deles nada fica de fora: nenhum desejo. Tudo se inflama. Ninguém os conseguirá tocar, sem distanciar-se de minha graça. Tornaram-se uma só coisa comigo. Eu mesmo, já não me afasto deles pela aridez; fico continuamente presente em seus espíritos. Nos imperfeitos, vou e volto, como já disse (18.1.2), retirando as consolações sensíveis. Faço isso para aperfeiçoá-los. Mas quando chegam à perfeição, paro com esse jogo de amor, esse ir e voltar. Chamo-o "jogo de amor", porque é por amor que retiro as consolações e as dou de novo. Na realidade, não que eu me retire e retorne, pois sou imutável; o que vai e volta é a percepção do prazer que meu amor causa na alma.   

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário